A população Quilombola do Brasil; por Brandão de Carvalho
"Esses densos espaços ocupados são símbolos da resistência contra a política escravocrata ainda hoje existente em várias localidades brasileiras".
Nossa temática hoje (30/7), será o que denominamos de QUILOMBOLAS, que muitos ouvem pelas mídias das comunicações em geral, mas que não têm o verdadeiro alcance do significado sociológico do termo no âmbito de suas origens.
Os quilombolas eram pessoas geralmente negras, identificadas com a sua cultura e tradições, viviam e ainda hoje vivem em comunidades territoriais que denominamos de Quilombos, que segundo o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda Ferreira “ é o esconderijo, aldeia , povoamentos que se abrigavam escravos fugitivos". Esses densos espaços ocupados são símbolos da resistência contra a política escravocrata ainda hoje existentes em várias localidades brasileiras.
O termo vem de “Kilombo”, cujo significado atualmente seria "acampamento". Essa tradição permeia e se origina da África Ocidental, até mesmo muito antes dos colonizadores e exploradores europeus, porque sendo eles nômades, não habitavam em locais fixos.
No Brasil, em face da crueldade imposta aos negros pelos portugueses e nossos próprios senhores de engenho, alargou-se o sentido da palavra “quilombos”, porque os negros fugitivos da escravidão procuravam abrigar-se em locais íngremes, de difíceis acessos, longe dos centros urbanos aonde eram açoitados, humilhados, espancados até a morte.
A raça negra, apesar dos sofrimentos, humilhações aceitas pelo poder estatal como regra, até mesmo pelos clérigos, nunca desistiram da sua luta em busca da liberdade que em termos relativizados veio com a Lei Áurea através da princesa Izabel, no período monárquico.
Os quilombolas herdaram de seus antepassados o gosto pela música de teor africano, as danças típicas, suas vestes coloridas, especialmente o ritmo do “ Lundum", trazidos de Angola e do Congo.
Como determinadas tribos indígenas, nossos habitantes originários por excelência, os quilombolas mantém uma tradição de vida em sintonia com a natureza, distante de centros e aglomerações humanas, alguns com estruturas minimamente compatíveis em termos sanitários enquanto outros vivem em condições inadequadas sem os recursos básicos para uma vida digna, sem assistências médicas, energia elétrica ou água potável em pleno século XXI.
No Piaui, a propósito, temos a comunidade Quilombo, zona rural de nosso vizinho município de Altos, que teria se originado da fuga de escravos do interior de José de Freitas, município limítrofe, hoje com aproximadamente 400 famílias, já apresentado em programa televisivo sobre a orientação do historiador e pesquisador Maxuel Marques. Diz ele “…foi dessa fazenda que tudo começou … registrada apenas em 1992 , há indícios que outros quilombolas se estabeleceram por aqui no século XIX, em face da formação arquitetônica do local e de uma moeda encontrada pelo agricultor Antônio Ferreira , datada de 1.816 casualmente.
O nordeste brasileiro abriga 68,18% da população quilombolas no Brasil , a Bahia tem a maior concentração 29,90%. O Piauí concentra a sétima maior população desse segmento com 31.686 pessoas, segundo o último Censo de 2023, estando localizados em 75 de nossos municípios, com um índice em termos nacionais de 0,97%. A população total do país chega a 1. 387.802 (hum milhão, trezentos e oitenta e sete mil, oitocentos e dois) habitantes, correspondente à média de 0,65% do total de nosso país.
Essas breves reflexões retratam um tentáculo importante de nossa história sobre um viés social.
Brandão de Carvalho é escritor e membro da Academia Piauiense de Letras Jurídicas, foi presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, e é desembargador aposentado do TJPI.
Fonte: JTNEWS