Uma análise do jornal católico La Croix reforça o aviso urgente de que a floresta amazônica passou a emitir mais carbono do que o absorvido. Segundo a revista "Nature Climate Change", o local emitiu 18% de CO2 a mais do que o absorvido entre 2010 e 2019.
"A aceleração do desmatamento sob Jair Bolsonaro não é a única ameaça, a perturbação climática fragiliza todo o ecossistema", alerta o texto assinado por Marine Lamoureux.
Os números alarmantes foram noticiados pela imprensa francesa, além dos apelos de Ongs e personalidades, escreve a jornalista. Mas ela nota a reação fraca do mundo político diante das importantes conclusões científicas da Inrae (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica, da França), da CEA (Comissão de Energia Atômica e Energias Alternativas, também da França) e da Universidade de Oklahoma.
"A Amazônia brasileira se transformou em fonte produtora de carbono", ressalta La Croix. "É um círculo vicioso muito perigoso", reforçam os especialistas.
"Os modelos climáticos têm dificuldades em trabalhar esses dados, tirando nossa visibilidade sobre o futuro", afirma Jean-Pierre Wigneron, diretor de pesquisas na Inrae. Segundo ele, isso vai influenciar outras bacias florestais, como no norte da América ou Sibéria.
Perigo de se chegar ao irreversível
"O risco é atingir o ponto de não retorno", acrescenta Frédéric Amiel, coordenador geral da ONG Amigos da Terra. Esse ponto, de acordo com Amiel, pode levar a transformações em efeito dominó dos ciclos naturais e uma mudança incontrolável do clima. "Os homens criam desequilíbrios nos ecossistemas sem se preocupar com o impacto global", critica.
É preciso agir no Brasil imediatamente, avalia o jornal francês. "O retorno das políticas em favor do agrobusiness ocorreu em 2012, com a reforma do código florestal durante o mandato de Dilma Rousseff", lembra Fréderic Amiel. Mas o Brasil é soberano, como o próprio Bolsonaro fez questão de dizer a Emmanuel Macron em agosto de 2019, quando o presidente francês criticou a ação do brasileiro na Amazônia.
O jornal francês lembra que a França e outros países ocidentais têm sua parte de responsabilidade, principalmente por conta das importações massivas de produtos gerados pelo desmatamento. "Pois se o Brasil se desmata, é para alimentar o gado com soja", escreve La Croix.
De acordo com um relatório da ONG Canopée, a França importou quase 4 milhões de toneladas de soja em 2019, principalmente destinada à alimentação animal.
Fonte: JTNEWS com informações da UOL