Cultura

As raposas e as galinhas; por Flávio de Ostanila

Uma fábula em homenagem a "meu prefeito".

Foto: Arquivo pessoal
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa

Quatro raposas conversavam sobre como caçar galinhas:
– Ataco no pescoço (gabou-se a primeira). Assim ela para de cacarejar e fica só se debatendo. Galinha que faz barulho é igual a eleitor falastrão: chateia, mas não muda os fatos.

Foto: Arquivo pessoal
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.

– Pois eu vou logo nos pés! Irrita-me a ciscadeira, como se pudesse escapar ou fazer algo contra mim. Acabo ligeiro com sua valentia. E já que você falou em eleitor, a ave de que falamos se parece muito com as pessoas que fazem protestos: quanto mais fuçam, pior fica para elas. 

– Já eu prefiro detonar os pintinhos! (alardeia o terceiro canídeo). Porque, como diz Jaiminho (carteiro da série Chaves, de Roberto Gómez Bolânos), evito a fadiga. Além do mais, filhote não esboça reação e, abatido ainda novinho, não se tornará um adulto zoadento e cheio de direitos. Mas entendam, colegas sorrateiras! não devem comer todos os frangotes: é importante permitir que uma parte sobreviva; pois são eles, com sua ingenuidade e ausência de perspectiva, que vão manter nossa mesa sempre farta. 

– Nada disso! (toma a palavra a última Raposa). Faço uma trilha de milho. Ao seguir o rastro, a Galinha irá aonde eu planejar, ficando mais vulnerável. Aí chego de mansinho e como-lhe o cu. O que faço não é diferente do que ocorre com muitas pessoas, que vivem unicamente de assistencialismo, que não tentam se desprender das armadilhas. Os políticos, muito parecidos conosco, oportunizam migalhas a esses humanos e os privam, em contrapartida, do acesso à saúde, à educação, à segurança, ao emprego formal, à justiça. 

As demais raposas surpreendem-se com a colega: 
– Logo a cloaca, em que há tão pouca carne?!

Conclui o político, ou seja, a Raposa:
– Vai que a vítima goste! Uma comida amiga será sempre bem comida, quero dizer, boa comida.

Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é escritor, policial penal do Piauí, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.

Fonte: Flávio de Ostanila

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