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Bulimia: entenda o que é, principais sintomas e como tratar

Em geral, a bulimia nasce do consumo exagerado de comida seguido de esforços para eliminar o que foi ingerido por impulso, explica o médico Fábio Salzano

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Entenda o que é a Bulimia

Nos anos 1970, o psiquiatra inglês Gerald Russell notou um padrão comum em vários pacientes com histórico de anorexia: após o tratamento da doença, surgia uma compulsão alimentar intensa seguida de muita culpa e mecanismos para se livrar das calorias ingeridas.

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Entenda o que é a Bulimia

O médico logo constatou que estava diante de um novo transtorno, ao qual chamou de bulimia nervosa. O nome unia os termos gregos boul (boi) ou bou (grande quantidade) e lemos (fome), fazendo menção a uma fome intensa ao ponto de devorar um boi, já que tudo começava com ingestões desproporcionais de comida.

Posteriormente, foram identificados casos raros em que a culpa vinha mesmo após refeições sem exageros. Esse padrão incomum ficou conhecido como bulimia atípica e não é a regra.

Quais os sintomas da bulimia?

Em geral, a bulimia nasce do consumo exagerado de comida seguido de esforços para eliminar o que foi ingerido por impulso, explica o médico Fábio Salzano, do Programa de Transtornos Alimentares do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo).

Os vômitos ocorrem em 80% dos casos, mas há outros mecanismos compensatórios, como o uso de diuréticos, laxantes, jejuns e muito exercício físico. É por isso que uma pessoa pode estar com bulimia sem vomitar o que come. "Temos pacientes que dizem 'descobri que faz mal vomitar, então faço quatro horas de bicicleta ergométrica'. Isso também é problemático", explica.

O que causa a bulimia?

As raízes podem ser sociais ou genéticas, segundo a profissional de educação física Paula Costa Teixeira, da Astralbr (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares).

Muitos pacientes desenvolvem os primeiros sintomas após longas dietas restritivas. Isso ajuda a explicar por que a doença atinge mais mulheres, cobradas para caberem em um padrão estético marcado pela magreza. Após muita privação, começa-se a comer mais do que o necessário e a culpa logo vem, levando às tentativas de compensação.

Outra situação é quando a pessoa tem um histórico de anorexia, como os identificados por Russell, lá nos anos 1970. Livre desse transtorno, o paciente come muito e depois se arrepende, retornando a uma relação problemática com a comida. É por isso que o tratamento psicológico é tão importante em ambas as doenças.

Sabe-se também que muitas vezes a bulimia é acompanhada de outras doenças mentais, como o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), comum em 40% dos casos; a depressão, que ocorre em 65%; e o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizado), que pode chegar a 12%, segundo Moura.

Mas o gatilho também pode ser uma crise familiar, um luto, as pressões estéticas ou outras condições específicas que levem à aversão ao próprio corpo.

No caso de Nara de Oliveira, 41, o problema começou quando ela sofria bullying na escola. A personal trainer era perseguida pelos colegas por conta do seu sobrepeso, chegando a ganhar apelidos ofensivos. O trauma foi tanto que, ainda na adolescência, a menina entrou em dietas restritivas e desenvolveu bulimia, abusando de laxantes e diuréticos.

Para a empresária Ana Flávia Soares, 27, o estopim foi a separação dos pais, quando ela tinha 13 anos. A jovem conta ter sido uma criança acima do peso por ter tratado alergias com corticoides. Em meio à ruptura familiar, resolveu emagrecer às custas de muito exercício físico após refeições exageradas.

Um dia, passou mal de tanto comer macarronada e começou também a induzir vômitos. Tinha 15 anos e seguiu com esses hábitos até os 22. Ao terminar a faculdade, entrou em uma crise profissional e os sintomas se acentuaram. Vomitava de seis a sete vezes por dia, se pesando diariamente e calculando cada caloria ingerida.

A gota d'água foi quando gastou R$ 150 em comida e vomitou tudo no banheiro de um shopping. "Uma senhora que trabalhava na limpeza me viu saindo três vezes dali e veio falar comigo: 'menina, você precisa de ajuda'".

As duas cuidaram da saúde mental e se debruçaram no tema para ajudar outras pessoas. A personal começou a pesquisar os transtornos alimentares e seu trabalho de conclusão de curso na graduação em Educação Física foi sobre distúrbio de imagem corporal.

Já Ana Flávia, à época jornalista, teve vários insights na psicoterapia e, após um curso de coaching, hoje atua como treinadora comportamental. "A busca incessante pelo corpo ideal tinha a ver com uma necessidade de ser aprovada pelo olhar masculino após meu pai ter ido embora de casa. Cuidar da mente foi fundamental para que eu tivesse meu corpo são", conta.

Quais problemas a bulimia pode provocar?

O impacto no organismo é grande. Nos casos em que há vômitos, o contato da boca com o ácido do estômago desgasta o esmalte dos dentes. Há ainda riscos de inflamação na laringe e de ruptura no esôfago, lembra a psiquiatra Estéfane Moura, da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria.

A perda de sais minerais e potássio também ocorre, impactando músculos como o coração. Aí, podem vir arritmias e até uma parada cardíaca. Sangramentos no estômago e pioras na função intestinal são outros problemas possíveis. O índice de mortalidade do transtorno é de 1 para cada 200 pacientes, segundo Fábio Salzano.

Qual a diferença entre bulimia e anorexia?

A anorexia e a bulimia são bem diferentes. Na primeira, o paciente não come, e, na segunda, há uma compulsão alimentar seguida de uma tentativa de compensação. É por isso que elas não podem coexistir, destaca Estéfane Moura.

Na anorexia também há uma maior distorção da autoimagem e os pacientes costumam ter menor IMC (índice de massa corporal). Na bulimia, há um medo de engordar, uma vontade de perder peso, mas não necessariamente uma fixação pela magreza. É por isso que há muitos bulímicos com sobrepeso ou obesos.

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Saber que sinais identificar em uma pessoa com anorexia, é um passo importante para identificar esse distúrbio nas primeiras fases de desenvolvimento

Como é o tratamento?

Por ser uma condição mental com impactos na alimentação e no metabolismo, a bulimia deve ser acompanhada por um grupo multidisciplinar. A equipe mínima é composta por psiquiatra, psicólogo e nutricionista. Mas outros profissionais como educador físico, enfermeiro, fisioterapeuta, odontologista, terapeuta familiar e acompanhante terapêutico podem contribuir, como acrescenta Paula Costa Teixeira.

Quando há necessidade de medicação, podem ser utilizados antidepressivos e anticonvulsivantes para que o paciente sinta-se mais estável e equilibrado durante o tratamento.

Homens podem ter bulimia?

Sim, embora seja menos comum. Calcula-se que sete em cada 10 pacientes de bulimia sejam mulheres. Segundo um levantamento da Astralbr, as trans têm duas vezes mais chances de serem diagnosticadas com a doença. Uma das causas para isso é a objetificação de seus corpos que pode elevar à insatisfação corporal.

Mas o fato de os homens serem minoria nas estimativas não quer dizer que eles não estejam vulneráveis. A nutricionista Estéfane Moura lembra que há poucas pesquisas sobre o transtorno entre a população masculina e isso dificulta a procura de ajuda por esse grupo, já que o problema segue estigmatizado como sendo algo exclusivamente feminino.

O estigma precisa cair, principalmente entre os LGBTQIA+. O estudo da Astralbr mostra, por exemplo, que 42% dos pacientes com distúrbios alimentares se identificam como gays. "Vejo que somos mais cobrados para estar dentro de certos padrões de beleza", argumenta o cantor e influencer Rizzih, 29.

Quem o vê feliz e fazendo sucesso na internet não imagina que o artista enfrentou a bulimia. Seu caso foi tão grave que ele precisou ser internado por complicações do transtorno.

Aos 17 anos, havia acabado de mudar de cidade, vivia um relacionamento conturbado e comia compulsivamente. Logo começou a induzir o vômito por medo de engordar. Foram os colegas da escola onde ele dava aulas de teatro que perceberam algo errado e um dia o acompanharam até uma consulta médica.

"No momento em que me vi na cama, cercado de alunos me olhando com pena, notei que estava no fundo do poço", lembra.

Para superar sua condição mental, Rizzi seguiu com tratamento psiquiátrico e, hoje, já recuperado, levanta a bandeira da luta contra a doença. "A gente acha que está no controle das coisas. Mas é mentira. Então, se eu puder dizer algo aos que passam por isso é: busque ajuda, não tenham vergonha. Não há outro caminho além desse para quem quer atingir sua melhor versão".

Fonte: UOL Notícias

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