A Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) foi estabelecida em 2004 como uma resposta à crise política e de segurança que assolava o país caribenho. No entanto, ao longo dos anos, ficou evidente que a missão não conseguiu alcançar seus objetivos e acabou sendo marcada por diversos fracassos.
Um dos principais problemas da MINUSTAH foi a falta de coordenação entre as agências internacionais especialmente a ONU e os diferentes atores envolvidos na missão onde cada um visava se aproveitar da situação do Haiti para satisfazer seus interesses pessoais. Como exemplo, temos o Brasil, um dos primeiros beneficiados que usou a situação do Haiti para conseguir uma cadeira não permanente no conselho de segurança da Organização das Nações Unidas além de se afirmar mais uma vez como maior potência da América latina (Eduarda HAMMAN, 2012). Isso resultou em uma abordagem fragmentada e desarticulada, que não conseguiu lidar de forma eficaz com os desafios complexos do Haiti, como a instabilidade política, a pobreza generalizada e crescente e a violência armada.
A Grande pergunta a se fazer é como a situação do Haiti, um país com menos de 15 milhões de habitantes pode piorar tanto, apenas 7 anos depois do encerramento da MINUSTAH?
Vamos tentar fornecer alguns elementos de resposta.
1- O País não tem um líder político eleito democraticamente. Desde a morte do último presidente Jovenel Moises, assassinado no poder, a situação do Haiti piorou em todos os sentidos. O Primeiro-Ministro, visto como um dos possíveis culpados do então presidente assumiu o poder e nunca conseguiu (ou nunca quis) organizar eleição no país. Com isso, ele acabou perdendo credibilidade e os grupos armados conseguiram o apoio de uma boa parte da população.
2- A perda da soberania do país. Haiti, o primeiro país negro a lutar contra a escravidão, a primeira nação a conseguir a sua independência na América Latina se viu na obrigação de pagar uma quantidade absurda a França para que a sua independência pudesse ser reconhecida. Num acordo assinado em 1825, Jean Pierre Boyer, então presidente do Haiti concordou para com uma redução tarifária de 50% sobre as importações francesas — e uma indenização de 150 milhões de francos (cerca de US$ 21 bilhões hoje), pagável em cinco parcelas (BBC New, 2024). Hoje podemos dizer que o Haiti não é um país pobre, mas sim, foi empobrecido para servir de exemplo. Junto a isso, precisamos considerar as diversas tragedias que atingiram o país a partir de 1964 com a passagem do furacão clona, diversos terremotos (2010, 2021), furacões recentes (2007, 2015, 2017), sem esquecer uma forte instabilidade política entre 1986 e 2004, o que ocasionou a presença da MINUSTA no Haiti. Todos estes acontecimentos levam o país a depender de ajuda internacional, o quê consequentemente leva a uma perda de soberania.
3- Haiti preso numa guerra econômica regional com a República dominicana, guerra influenciada pelos Estados Unidos na sua luta contra a presença da China no país.
Vale destacar que a presença da MINUSTAH foi frequentemente criticada por abusos e violações dos direitos humanos cometidos por seus soldados e policiais, o que minou a credibilidade da missão e prejudicou sua relação com a população haitiana. Isso gerou um sentimento de ressentimento e desconfiança em relação às forças de paz internacionais, o que dificultou ainda mais a implementação eficaz das atividades da MINUSTAH. Segundo informações levantadas por Paisley Dodds (2017), ao menos 150 alegações de abuso e violência sexual por parte de peacekeepers foram reportadas entre 2004 e 2016. Há, por exemplo, o caso dos 134 soldados do Sri Lanka acusados de traficar sexualmente nove crianças. Desse total, 114 foram mandados de volta para casa, porém nenhum foi condenado (DODDS, 2017). Recentemente, acusações foram levantadas contra a equipe da organização de caridade britânica OXFAM, que teria contratado prostitutas quando atuava no Haiti (Daniel KHALILI-TARI, 2018).
Outro ponto crucial do fracasso da MINUSTAH foi sua incapacidade de abordar as causas estruturais da instabilidade no Haiti, como a corrupção generalizada, a falta de infraestrutura e o desemprego em massa. A missão falhou em promover uma verdadeira reforma institucional e econômica no país, esquecendo de dar total atenção a uma política de reformulação da Polícia local, deixando o país mais vulnerável a novas crises no futuro.
Por fim, a MINUSTAH não conseguiu estabelecer uma saída estratégica e sustentável para sua presença no Haiti, o que resultou em uma prolongada e custosa operação que não trouxe benefícios significativos para a população local. Em vez disso, a presença da missão foi muitas vezes percebida como uma ocupação estrangeira, o que gerou conflitos e resistência por parte dos haitianos.
Em resumo, o fracasso da MINUSTAH no Haiti pode ser atribuído a uma combinação de problemas estruturais, falta de coordenação e abordagem inadequada aos desafios do país. E como consequência, TEMOS O HAITI ATUAL.
Fonte: JTNEWS