No início deste século, o estado do Piauí amargava índices alarmantes de analfabetismo: 35% de sua população jovem e adulta não sabia ler e nem escrever. Vinte anos depois, a realidade atual é bem diferente. Embora os números ainda sejam considerados altos, esse contingente de adultos analfabetos caiu quase 20 pontos percentuais, e agora chega a 16%.
Como resultado desse avanço, o governo piauiense acaba de lançar a última etapa do programa Universidade Aberta, garantindo o ensino superior gratuito para todos os 224 municípios do Estado, numa parceria com a Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi). A empreitada dá ao Piauí o título de única unidade da federação a ter ensino superior em todos os municípios.
Muitos dos adultos alfabetizados têm na Universidade Aberta do Piauí uma oportunidade de acesso a um curso superior. É o caso de Elieide Maria da Silva, de 26 anos, moradora do município de Canavieira, a quase 400 quilômetros da capital Teresina. Antes, a cidade mais próxima com curso de graduação ficava a 150 quilômetros da cidade onde ela mora.
“Desde criança trabalho na área de perfumaria, aprendi com minha mãe e cresci com esse hábito. Logo que vi que esse era o meu foco, comecei a juntar dinheiro, montei um estoque e abri minha lojinha de cosmético. “. “É muito importante para uma cidade pequena como a nossa, porque temos muitos jovens que não têm oportunidade de estudar por falta de condições financeiras”.
Dos 224 municípios piauienses, 41 têm campi das universidades federal ou estadual ou do Instituto Federal (IF) e os outros 183 contam com a UAPI, um programa de educação superior que opera em um sistema por mediação tecnológica via satélite, o que facilita a qualidade do sinal nos locais mais longínquas, inclusive em áreas rurais.
As aulas acontecem aos sábados, geralmente o dia todo, de dentro do estúdio da TV pública do Estado, a Antares, em uma estrutura montada especialmente para a realização das aulas. De lá, o professor interage diretamente com os municípios do interior, onde tutores e alunos participam de forma presencial, um formato híbrido que mescla encontros presenciais e educação à distância.
“A vantagem é que eu consigo ter os melhores professores à disposição do curso, com mestrado, doutorado, especialistas naquela área, o que seria inviável se eu tivesse que distribuir para as 183 turmas que temos hoje, mandar esse professor para todos os municípios. Então, consigo concentrar o professor na sede, em Teresina, com aula ao vivo, e, nos polos, temos os tutores que acompanham as turmas”, explica Ellen Gera, secretário de Educação do Piauí, acrescentando que além das aulas semanais mediadas pela tecnologia, os alunos continuam com atividades nas plataformas e podem usar a estrutura física existente em todos os municípios, com biblioteca, sala de estudo e laboratório de informática. “Eu já tinha iniciado meu próprio negócio e o curso de administração veio para preencher o que faltava e eu me realizar profissionalmente”, afirma Tatiana Oliveira, aluna que mora há 250 quilômetros de Teresina, no município de Buriti dos Montes.
Com um investimento inicial de 80 milhões de reais, a Universidade Aberta teve início em 2017 com a oferta do curso de administração, com foco em empreendedorismo, e já atende mais de 8 mil estudantes. A primeira turma se forma em agosto deste ano e o governo do Estado vai garantir um programa de fomento para os novos empreendedores. Segundo dados do Sebrae, o Piauí é o Estado com maior número de trabalhadores informais, o que estimulou a oferta do curso voltado ao empreendedorismo.
“Geralmente, nos municípios pequenos, quando as pessoas vão avançando na sua escolaridade, na sua formação, a tendência é irem para municípios maiores, mais pujantes economicamente. O que buscamos com esse curso é fazer com que elas tenham sua formação de nível superior e fiquem no seu município, para que a gente possa também desenvolver localmente”, salienta Gera.
Para 2023, a Universidade Aberta pretende oferecer pós-graduação e outros cursos superiores. Além disso, o Estado estima preparar mais pessoas a entrarem no programa, investindo mais de 500 milhões de reais no projeto de alfabetização de adultos e idosos. Para entrar na UAPI, o aluno tem acesso pelo Enem ou por edital próprio.
Fonte: JTNEWS com informações da Carta Capital