Com o avanço da COVID-19 por todo o Brasil, gestores de saúde têm visto o aumento das filas por leitos de UTI, mas as redes de saúde local têm sofrido para dar conta da demanda. Em regiões mais críticas, como Santa Catarina, pacientes morrem por falta de vaga e parte dos internados foi transferida para o Espírito Santo. Em seis Estados, a lista de espera por leitos de terapia intensiva tem 1.372 nomes.
Na Bahia, 337 pacientes aguardam vaga, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. A situação não é muito diferente em Goiás, onde atualmente há 300 pacientes esperando vaga para o tratamento de COVID-19. No Estado, 15 hospitais públicos estão com as UTIs lotadas, e em nove unidades já faltam vagas até de enfermaria.
No Rio Grande do Sul, onde 288 pacientes aguardam internação em UTI, houve alta de 183% no número de pacientes hospitalizados, ante o mesmo período do ano passado. Apesar de ter ampliado em 65% o número de leitos de terapia intensiva, isso não foi suficiente para dar conta da demanda.
"O aumento [de internações] foi muito abrupto. Não existe sistema que dê conta. É surpreendente pela forma como avança, de forma mais veloz e forte. É repentino, inesperado. Não tem nenhuma previsibilidade", avalia Bruno Naundorf, diretor do Departamento de Auditoria do SUS e membro do Comitê de Crise da Secretaria da Saúde gaúcha.
Especialistas dizem que a falta de coordenação nacional prejudica uma organização melhor do fluxo de leitos e parte deles vê o lockdown como saída necessária para frear o vírus e evitar o colapso em cascata dos hospitais. O presidente Jair Bolsonaro, porém, é forte opositor do fechamento do comércio. Nesta semana, ele chegou a falar em "frescura" e "mimimi" ao citar os riscos da COVID.
Em Santa Catarina, a Secretaria de Saúde informa que 291 pessoas aguardam vagas para tratamento intensivo - metade na região de Chapecó. Na terça, ao menos 16 pacientes haviam morrido à espera de UTI no Estado. Para desafogar o sistema, o Estado passou a enviar doentes para o Espírito Santo desde quarta-feira (3/03). A previsão inicial era de 15 transferências para hospitais capixabas, que também já receberam pacientes de Amazonas e Rondônia.
A rede rondoniense já opera com 100% da capacidade desde fevereiro e eram 86 à espera de vaga nessa sexta (5/03). No Amazonas, a ocupação de leitos é de 86%, e Manaus tem os dois maiores hospitais da cidade sem vagas para novos pacientes. Apesar disso, o Estado permitiu esta semana a reabertura de academias e outros serviços não essenciais. Entre janeiro, quando os hospitais de Manaus entraram em colapso por falta de oxigênio, e fevereiro, o Amazonas transferiu 542 pacientes para outros Estados.
No Rio Grande do Norte, onde 70 pessoas esperavam vaga em UTI nesta sexta, a governadora Fátima Bezerra (PT) disse que a rede de saúde vive um "pré-colapso" e chorou em coletiva de imprensa para anunciar novas medidas restritivas.
Em Rio Branco, onde o tamanho da fila não foi divulgado, a professora universitária Maria José de Araújo, de 59 anos, espera há mais de três dias a liberação de UTI. Ela está internada e respira com ajuda de oxigênio no Instituto de Traumatologia e Ortopedia do Acre, segundo o filho da paciente, Paulo Henrique Paiva.
"Estamos aqui desde a semana passada esperando uma alta, mas o quadro clínico dela só piora. Minha mãe entrou com 65% do pulmão atingido pelo vírus, chegou agora a 90%, e não regride, é incrível. Está no oxigênio há oito dias, e já tem três dias que aguardamos a liberação de um leito de UTI, mas eles dizem que não tem. Está regulada, mas dizem que tem quase 50 pessoas na fila, e ela é a [paciente número] 35", contou Paiva nesta sexta.
"Precisamos agir como cidadãos, e se preocupar com as nossas vidas, e com a vida daqueles que nós amamos. É preciso responsabilidade de todos", alertou o infectologista Eduardo Farias, que atua na linha de frente do Hospital de Campanha da capital acreana.
Fonte: JTNEWS com informações do UOL Notícias