A maioria das pessoas com Covid-19 não acaba no hospital, mas alguns grupos desenvolvem uma forma muito grave da doença. Já na primeira onda da pandemia, ficou claro que os grupos étnicos minoritários no Reino Unido eram mais propensos a morrer do que os brancos.
Parte deste risco mais elevado se deve a fatores socioeconômicos. Por exemplo, pessoas de minorias étnicas no Reino Unido apresentam maior probabilidade de viver em áreas com aglomeração em comparação com as brancas.
E é mais provável que vivam em residências ocupadas por várias gerações, fazendo com que os idosos estejam mais expostos a vírus transmitidos por membros mais jovens da família. Elas também estão em maior risco porque têm maior probabilidade de trabalhar em centros de saúde e lares de idosos, o que aumenta o risco de exposição ao vírus.
Mas a história não acaba por aí.
Um grande estudo publicado pela revista The Lancet, em maio, descobriu que os riscos de ser hospitalizado, precisar de cuidados intensivos ou morrer em decorrência da Covid-19 na Inglaterra eram maiores para grupos étnicos asiáticos, negros e mistos, em comparação com brancos durante a primeira onda da pandemia no Reino Unido (primavera de 2020 no hemisfério norte).
Na segunda onda, o risco entre os grupos étnicos negros e mistos diminuiu, mas o oposto se deu com os sul-asiáticos. Para eles, o risco de acabar no hospital ou morrer de Covid-19 foi maior na segunda onda em comparação com os brancos e outros grupos étnicos minoritários.
O que pode explicar esta diferença? Será que os genes que certos grupos étnicos minoritários carregam os colocam em maior risco de desenvolver a forma grave da Covid-19?
Em 2020, os primeiros estudos genéticos mostraram que de fato havia diferenças genéticas que resultavam em um maior risco de Covid grave. Depois de estudar os genes em milhares de pacientes com a doença, os pesquisadores descobriram dois suspeitos: os genes LZTFL1 e SLC6A20.
Qual destes dois genes aumenta o risco de Covid-19 grave? E como isso acontece?
Um novo estudo, publicado na revista científica Nature Genetics, encontrou as respostas. Os pesquisadores, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram que o LZTFL1 está envolvido na forma grave da doença, e não o SLC6A20.
Um percentual de 60% das pessoas com ascendência sul-asiática carrega a versão de maior risco do gene, em comparação com 15% entre os brancos e apenas 2% das pessoas com ascendência africana ou afro-caribenha. Além disso, este gene é muito ativo na camada de células que reveste as vias respiratórias e os pulmões.
Esta camada de células, chamada epitélio respiratório, aquece e limpa o ar antes que ele chegue aos pulmões, onde o oxigênio é absorvido pelo sangue. Ela atua como uma barreira entre o ar que entra no sistema respiratório e os tecidos internos do corpo e é essencial para uma respiração adequada.
O estudo mostrou que a variante de alto risco do gene reduz a capacidade das células nos pulmões de reparar o tecido danificado e substituir as células perdidas, o que pode ser necessário para superar doenças graves.
A variante genética também faz com que as células tenham mais cópias das duas proteínas (chamadas ACE2 e TMPRSS2) que permitem que o novo coronavírus, causador da covid-19, entre nas células e as infecte.
O que isso significa é que as pessoas portadoras da variante do gene de alto risco provavelmente terão mais células infectadas, menos capacidade de cura e, portanto, uma infecção mais grave.
Ainda não sabemos até que ponto o efeito desproporcional que a Covid-19 teve sobre a população com ascendência sul-asiática no Reino Unido se deve a este gene. E estas descobertas não significam que os fatores socioeconômicos não tenham desempenhado um papel importante.
Tampouco temos dados sobre o papel do gene em países do sul da Ásia, onde muito mais gente provavelmente é portadora dele, ou o que isso pode significar para os esforços de combate à pandemia.
Mas os resultados deste estudo são importantes, porque nos dizem que parte do maior risco para alguns grupos étnicos, como pessoas de ascendência sul-asiática, é biológico.
Embora já existam vacinas e medicamentos para tratar Covid-19, o novo estudo nos mostra uma forma potencial de desenvolver novos tratamentos voltados para os pulmões, em vez do sistema imunológico, que tem sido o foco principal até agora. Isso pode ser particularmente útil para aqueles que correm risco de sofrer da forma grave da doença.
Fonte: BBC News