A tradicional cervejinha do final de semana pode ficar mais cara para o brasileiro. Isso porque a guerra entre Rússia e Ucrânia pressiona os preços da cevada e do malte, principais ingredientes da bebida.
Os dois países envolvidos no conflito representam quase 30% das exportações globais de cevada. A Rússia é o terceiro maior fornecedor de malte para o Brasil, ficando atrás da Argentina e do Uruguai.
Mesmo que as nações não sejam as principais fornecedoras das cervejarias brasileiras, a falta dos insumos no mercado internacional provoca uma alta nos preços.
A produção de cervejas no Brasil é a terceira maior do mundo, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O faturamento da indústria cervejeira chega a R$ 77 bilhões, representando 2% do PIB.
Segundo dados do Mapa, em 2019, o Brasil importou 671 mil toneladas de grãos de cevada, ocupando o 11º lugar entre os maiores importadores mundiais de cevada. Importou também 1,09 milhão de tonelada de malte, ficando em primeiro lugar entre os maiores importadores de malte.
O Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) aponta que cerca de 78% da cevada e 65% do malte consumidos no país em 2021 são importados de outros países, entre eles, a Rússia e a Ucrânia.
Já o lúpulo é praticamente todo importado, principalmente da Etiópia. Para o superintendente do Sindicerv, Luiz Nicolaewysk, a guerra vai impactar no custo da matéria-prima.
“Não vai faltar, mas vai encarecer. São commodities e, nesse momento de falta, inflaciona. Já temos algo em torno de 10% de aumento no preço desses insumos”, pontua Nicolaewysk.
Até fevereiro deste ano, a inflação da cerveja acumulou 8,39% nos últimos 12 meses para o consumo nos domicílios, segundo dados do IPCA.
Paulo De Tarso Petroni, diretor-geral da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), afirma que a margem de lucro das produtoras pode ser comprometida em até 30%, em média.
Segundo ele, além da inflação da bebida, outros fatores impactam o custo de produção do empresário, como o aumento do preço dos combustíveis e o valor do dólar.
O diretor-geral da CervBrasil diz que as empresas têm evitado repassar as altas para os clientes. Quando repassam, segundo ele, não é de forma integral e se dá em produtos ou regiões selecionadas.
“Quanto ao preço da bebida, deve impactar sim por conta desse aumento forte dos insumos de produção, dos aumentos de custo, mas nós estamos sempre com um tampão que é a capacidade de compra, ou seja, a disponibilidade de renda do consumidor final”, declarou.
“Nós já enfrentamos aqui no Brasil, há um bom par de anos, uma deterioração da capacidade de consumo do brasileiro. Então, não adianta muito a gente forçar querendo aumentar os preços para repassar os custos que vem de lá de fora porque, de fato, o consumidor não absorve isso”, acrescentou Petroni.
Para os pequenos empreendedores, o impacto deve ser ainda maior. O presidente da Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva), Gilberto Tarantino, destacou as dificuldades diante do cenário, que já somava outras barreiras, como o custo do combustível no transporte.
“Esse impacto vai ser grande, sem dúvidas. Prejudica principalmente as cervejarias menores, como as artesanais ou independentes. Hoje, nós temos cerca de 1.300 cervejarias produtivas. Nós importamos em volume menor, não fazemos contratos de 12 meses como empresas maiores e temos poder de negociação menor”, disse.
“Algumas estão fazendo o repasse dos custos aos poucos, enquanto o cliente tem optado por outras marcas”, ressaltou o presidente da Abracerva.
Nos comércios, o impacto ainda não foi sentido pelos brasileiros. No acumulado dos últimos 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a cerveja aumentou 5,97%.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife não registraram repasse do aumento dos preços da cerveja ao consumidor nos dois primeiros meses do ano.
Fonte: CNN Brasil