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Decreto golpista previa comissão revisora das eleições e quebra de sigilo de ministros do TSE

Minuta de documento para Bolsonaro tentar mudar eleições foi encontrada em casa do ex-ministro Anderson Torres

Foto: Tom Costa/MJSP
Ministro da Justiça Anderson Torres discursa em visita a penitenciária federal de Brasília; Categoria cobra de Ministro, valorização da Polícia Penal Federal por meio de sua regulamentação

O decreto golpista encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres previa, além da instituição do estado de defesa, a criação de uma comissão controlada pelo governo Jair Bolsonaro (PL) responsável por fazer a "apuração da conformidade e legalidade do processo eleitoral" vencido pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Foto: Reprodução/Instagram
Jair Bolsonaro e Anderson Torres, este já está com prisão preventiva decretada; já o ex-presidente é o foco de novas investigações da Polícia Federal

Também estabelecia as quebras dos "sigilos de correspondência e de comunicação telemática e telefônica" dos membros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A medida de exceção valeria para todo o período do processo eleitoral até a diplomação de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que ocorreu em 12 de dezembro.

De acordo com especialistas, o decreto é inconstitucional porque representaria uma interferência indevida do Executivo na Justiça Eleitoral.

De acordo com o texto seria decretado um "Estado de Defesa" na sede do TSE, incluindo todas as dependências onte houve "tramitação de documento, petições e decisões acerca do processo eleitoral presidencial de 2022, bem como o tratamento de dados telemáticos específicos de registro, contabilização e apurações dos votos coletados por urnas eletrônicas em todas as zonas e seções disponibilizadas em território nacional e no exterior".

Foto: GABRIELA BILÓ/FOLHAPRESS
Vista da rampa do Planalto de dentro do palácio, com vidraça quebrada, durante atos terroristas de extremistas Bolsonaristas; tudo isso só está sendo esclarecido devido os atos terroristas das sedes dos 3 poderes da República

A Comissão de Regularidade Eleitoral seria o órgão responsável por elaborar um relatório final e apontar supostas irregularidades nas eleições.

O colegiado seria composto por oito integrantes do Ministério da Defesa (que indicaria a presidência), dois membros do Ministério Público Federal, dois peritos criminais federais, dois representantes do Congresso Nacional (um da Câmara e outro do Senado), um membro do Tribunal de Contas da União e um da Controladoria-Geral da União.

A minuta prevê ainda convite a integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil, da Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos para participar do processo de análise, a partir da apresentação do relatório final consolidado.

O documento, porém, tem uma observação entre parênteses: "avaliar a pertinência da manutenção deste dispositivo na proposta".

Outro trecho do decreto criava restrições para a entrada no edifício do TSE. Pelo período do Estado de Defesa, o acesso nas dependências do tribunal seria regulamentado pela Comissão de Regularidade Eleitora, "assim como a convocação de servidores públicos e colaboradores que possam contribuir com conhecimento técnico".

O documento de três páginas, feito em computador, foi encontrado no armário do ex-ministro durante busca e apreensão realizada na última terça-feira (10). A PF vai investigar as circunstâncias da elaboração da proposta.

Após a Folha revelar a existência do documento, o ex-ministro afirmou em uma rede social que a minuta foi "vazada fora de contexto" e ajuda a "alimentar narrativas falaciosas".

"No cargo de ministro da Justiça, nos deparamos com audiências, sugestões e propostas dos mais diversos tipos. Cabe a quem ocupa tal posição o discernimento de entender o que efetivamente contribui para o Brasil. Havia em minha casa uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado. Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP [Ministério de Justiça e Segurança Pública]", escreveu Torres no Twitter.

"O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá e vazado fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra mim. Fomos o primeiro ministério a entregar os relatórios de gestão para a transição. Respeito a democracia brasileira. Tenho minha consciência tranquila quanto à minha atuação como ministro", afirmou.

Fonte: Folha de S. Paulo | Brasília e Manaus

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