Justiça

Ex-candidata a deputada federal que manteve afilhada em cárcere por 15 anos tem prisão preventiva decretada

Francisca Danielly Mesquita Medeiros, de 38 anos, foi presa temporariamente na terça-feira, (23). A defesa dela chegou a entrar com o pedido de habeas corpus ou prisão domiciliar, que foram negados

Foto: Reprodução/ internet
Francisca Danielly Mesquita Medeiros acusada de manter afilhada em cárcere privado por 15 anos

A ex-candidata a deputada federal Francisca Danielly Mesquita Medeiros, denunciada por manter afilhada em situação análoga à escravidão por 15 anos em Teresina, teve a prisão temporária convertida em preventiva na tarde dessa sexta-feira (26/5). A decisão é do juiz Valdemir Ferreira.

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Francisca Danielly Mesquita Medeiros acusada de manter afilhada em cárcere privado por 15 anos

Na quinta-feira (25/5), o desembargador Sebastião Ribeiro Martins, do Tribunal de Justiça do Piauí (TJ-PI), negou o habeas corpus da suspeita. O advogado da acusada, Paulo Germano, informou ter solicitado a liberdade ou prisão domiciliar da cliente sob alegação de que ela tem dois filhos pequenos, um deles dentro do espectro autista, e que ela é a única responsável por eles.

"O juiz avaliou que existem outras pessoas que podem cuidar das crianças, mas entramos com o pedido de reconsideração porque as crianças têm menos de 12 anos e uma delas tem espectro autista", disse.

Sobre o decreto da prisão preventiva de Francisca, o seu advogado informou que não foi comunicado da decisão.

Francisca Danielly foi presa em decorrência de um mandado de prisão temporária após investigação da Polícia Civil motivada por uma denúncia de que ela mantinha uma jovem de 27 anos em cárcere privado e em situação análoga à escravidão. Além da esfera criminal, a acusada também deverá enfrentar a Justiça do Trabalho.

Mantida em cárcere privado, situação análoga à de escravidão e sendo agredida quase diariamente durante 15 anos, Janaína dos Santos, de 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário, nunca ia ao médico quando sentia dor, nem podia ter amigos ou sair de casa quando quisesse.

A jovem foi tirada de casa aos 12 anos durante um feriado da Semana Santa, inicialmente, apenas para passar alguns dias com a madrinha em Teresina.

Ela vivia com os pais e seis irmãos mais novos na cidade de Chapadinha, no Maranhão, para onde nunca mais voltou. Começou então uma rotina de escravidão, agressões, ameaças e perda de qualquer liberdade. Ela contou que era impedida de sair de casa e fazer amizades e era obrigada a realizar todas as tarefas domésticas na casa de Danielly, sem qualquer remuneração.

"Nunca recebi salário, sempre vivi sem ajuda, nem pra comprar roupa, ela não me pagava um centavo. [Para comprar produtos de higiene pessoal] eu pedia ao companheiro dela, ele me dava dinheiro pra eu comprar. Eu recebia tudo usado, ela só me dava quando não prestava mais", relatou.

Segundo ela, o que ela fazia em casa nunca estava bom. Ela era sempre tratada como preguiçosa e, quando a dona da casa não estava satisfeita, a agredia.

"Ontem mesmo ela falou tanto nome que doeu meu coração, e eu nunca respondia ela, ela me xingava, mas eu não xingava, não dizia nada. Eu não tinha amigos, não podia sair, a última vez que saí foi segunda-feira, mas ela tomou minha chave, me punia. Eu só saía pra comprar coisas e voltar pra casa. Eu sentia tristeza, chorava sozinha, não gostava da minha vida. Pedia a Deus que me tirasse dali", contou.

Entre as violências, ela também não podia sair sequer para ter acompanhamento médico quando precisava e nunca realizou consultas ginecológicas.

Janaína disse que nunca foi a um hospital, mesmo quando sofreu com crises de cólica renal, que causam dores intensas. "Ela me dava uma dipirona pra eu me sentir bem, mas no médico nunca fui", relatou.

Janaína estudava enquanto vivia na casa dos pais, mas desde que veio para Teresina nunca mais foi à escola, não aprendeu a ler e escrever nem teve qualquer convivência com outras crianças ou adolescentes. A jovem contou que, agora, a vontade que tem é de voltar a estudar.

O caso dela ainda está sendo investigado pela Polícia Civil do Piauí, que deverá concluir o inquérito nos próximos dias. Enquanto isso, a acusada está presa temporariamente em uma unidade penal do estado, à disposição da Justiça.

Fonte: JTNEWS com informações do Portal G1 Piauí

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