Fomos criados desde nossa mais tenra infância pelos mais provectos com a atenção sempre voltada aos males que os animais pudessem nos causar. Nos era imposto ter medo, medo do cachorro, da onça, do leão, do bicho papão, de tantos outros quadrúpedes! Não nos apercebíamos naquela época, até porque não era tanto quanto hoje, que o animal mais perigoso é o próprio homem.
Dotado de razão, inteligência, é capaz de aniquilar seu semelhante pela mais vilipendiosas formas, ardis e adredemente planejadas no subterfúgio de uma mente traiçoeira, criminosa, açoitadas pelos sentimentos mais primitivos antes de tornar-se "homo sapiens", mas que contempla nos seus cromossomos e suas alterações genéticas desvios de personalidades que não afloram, hermeticamente fechados no psiquismo paranóico de centenas de milhares de condutas reprováveis que vêm a tona em situações imprevisíveis. O homem: o ser mais transmutado que possa existir.
O homem destrói a si mesmo no seio mais íntimo da sua existência, seu semelhante, o amigo, inimigo, inocente, a ânsia pelo poder desvairado, a conquista de bens, ciúme do seu semelhante, narcisismo, de alma diabólica que pode contaminar a sociedade (para os que acreditam).
Thomas Hobbes, teórico político e filósofo inglês disse: “o homem é o lobo do próprio homem” em sua monumental obra o Leviatã, quando ele compara o homem ao lobo, atribui àquele os maus instintos do animal e tudo que se pode fazer na sua alcateia contra todos os animais que habitam em seu território. Se Hobbes se referiu ao lobo eu acrescentaria a hiena, animal perigoso que amedronta o próprio rei da selva: o Leão, bicho esquivo, detestável que devora sem piedade os animais silvestres e até mesmo matérias orgânicas putrefas!
Portanto, adiciono a hiena, além do lobo, como asasssinos contumazes das espécies fortes e mais fracas, tal qual faz o homem hoje com seu afã de destruir, estigmatizar a sua própria espécie.
Uma realidade tenebrosa, aviltante se incorpora a raça humana independentemente dos anseios religiosos que pregam a paz, enquanto outras doutrinas em nome de um Deus odioso e intolerante aniquilam seu povo porque não duvidaram, com suas insidiosas pregações.
Mesmo assim, nesse vale de lágrimas, não iremos desistir de acreditar no homem de boa vontade, impregnado de ética e princípios cristãos que também às vezes é vilipendiado pelos lobos ou hienas travestidos de cordeiros. Por tudo isso, e por mais que venha, vamos acreditar que embora satanizada a imagem do ser humano, ainda há homens e mulheres neste mundo capazes de mudarem a face desse planeta que assistimos sua destruição dia a dia pela insensatez, guerras, arbitrios, corrupção , arrasamento do meio ambiente, armas mortíferas, doenças naturais ou laboratoriais, corações empedernidos pela falta à busca do Grande Arquiteto do Universo.
A frase é do dramaturgo Ttitus Maccius Plautus, há 254 A. C, em sua comédia Assinaria “O homem que não se conheça tal como é, é lobo para o homem.”(lúpus est homo homini, nom homo , quan qualis sit non novit).
Para Hobbes, o homem no seu estado de natureza é um ser agressivo, violento e que possui um instinto de sobrevivência selvagem. Logo, o homem deve ser monitorado pelas leis, porque sem estas, sem um Estado forte, se torna um ser agressivo preocupado com sua auto preservação!
Sempre existiu na longa história da humanidade esses lobos famigerados que estão a estilhaçar, exterminar, vandalizar os mais lídimos preceitos de paz e amor que a cada dia são ceifados em nome de uma intolerância inexoravelmente pérfida e podre que se afasta de todos os preceitos morais que a humanidade deveria resguardar e defender!
Estamos a viver dias tensos, como tantos outros que sacrificaram milhões de indivíduos nas conquistas milenares com trucidamentos os mais horripilantes. Dizem, verdade é, que o mundo é cíclico, tudo se repete de forma cada vez mais veloz, numa tecnologia e sobre a inteligência artificial, capazes de exterminar o mundo por frações de segundos, a vida tornou-se um “brinquedinho” que pode ser aniquilado e não é mais valorizada nem respeitada pelos déspotas que sempre existiram e que se encontram entre nós em imagens e semelhanças.
Aonde está nossa segurança? Ela não está mais em lugar nenhum, nem nos nossos camarins cercados de olhos mágicos, drones, cercas elétricas ou arames farpados.
O império do mal está alardeando os quatro cantos desse planeta, desde a minúscula cidade até a megalópole mais importante, estamos entregues a uma matilha de lobos famintos e hienas que nos devoram sem piedade, às vistas de governos condescendentes que patrocinam toda essa odisseia que, tão profundamente amarga que a saltos gigantes nos torpedeiam a cada instante.
*Brandão de Carvalho é escritor da Academia de Letras Jurídicas do Piauí, é jurista e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado.
Fonte: JTNEWS