Política

Pastor José Wellington admite intermediar emenda para favorecer filhos políticos

José Wellington controla a Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil há três décadas e lidera o Ministério do Belém, em São Paulo

Foto: Leticia Moreira/Folhapress
Pastor José Wellington Bezerra da Costa

O pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes da Assembleia de Deus, admitiu que a igreja faz a intermediação do pagamento de emendas parlamentares para eleger três de seus filhos.

Foto: Leticia Moreira/Folhapress
Pastor José Wellington Bezerra da Costa

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, que publicou um vídeo com um discurso dele durante uma reunião de obreiros, realizado na ultima segunda-feira (07/02), em São Paulo.

O deputado federal Paulo Freire Costa (PL-SP), a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP) e a vereadora Rute Costa (PSDB-SP), filhos do pastor, tiveram acesso a R$ 25 milhões em recursos públicos, em 2021. Os três tiveram apoio da igreja durante suas campanhas. O líder proibiu o apoio de pastores a candidatos que não sejam "ungidos" pela denominação evangélica.

"A verba só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus (...) O eleitorado que ali está, irmãos, não é do prefeito, mas são irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que os nossos candidatos continuem trabalhando."

José Wellington controla a Convenção-Geral das Assembleias de Deus no Brasil há três décadas e lidera o Ministério do Belém, em São Paulo. No culto, ele diz que os filhos são livres para escolher quem beneficiar e que "a igreja não precisa de dinheiro do Estado". Ele revelou, no entanto, como os prefeitos são abordados:

"Você quer dinheiro? Quer, mas chame então o pastor da Assembleia de Deus porque você só receberá verba por intermédio de um pedido do pastor da Assembleia de Deus ", disse José Wellington Bezerra da Costa.

Essa chancela dos recursos pelos pastores serve, segundo ele, "para evitar qualquer nuvem negra sobre o comportamento dos nossos companheiros". Segundo o Estadão, em 2021, o deputado Paulo Freire Costa teve acesso a R$ 16 milhões em emendas, valor que é destinado a cada um dos parlamentares. Ele indicou verbas para 26 beneficiários, sendo R$ 395 mil para Campinas (SP), onde é pastor, e R$ 600 mil para Bilac (SP) e Santópolis do Aguapeí (SP), numa modalidade apelidada de "pix orçamentário" "por repassar um 'cheque em branco' para prefeituras sem fiscalização federal".

Em 2018, José Wellington apoiou a campanha do agora presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, ele também já foi próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje líder nas pesquisas de intenção de voto. Na reunião em que falou sobre as emendas, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), aliado de Bolsonaro e pré-candidato ao governo de Goiás, estava presente.

Ainda no encontro registrado no vídeo divulgado pelo Estadão, José Wellington manifesta sua preocupação com o apoio de pastores a candidatos que não pertencem à igreja e coloca o pagamento de emendas como forma de incentivar os nomes escolhidos para representar os fiéis.

"Meus irmãos, trabalhem para eleger os nossos irmãos na fé, procurem eleger os nossos irmãos na fé. Glória! Seja fiel a este nome: Assembleia de Deus no Brasil."

Outro lado

Procurado pela reportagem do Estadão, o pastor confirmou que coloca líderes da igreja em contato com prefeitos beneficiados por emendas de seus filhos, mas negou que haja troca de favores. Segundo ele, "a igreja não tem qualquer compromisso político".

"Quando o prefeito de uma cidade precisa de uma verba, é evidente que nós mandamos o pastor da nossa igreja para que ele tenha conhecimento com o prefeito. O nosso deputado vai entender, naturalmente, se a verba for coisa lícita, for necessária, mas pelos canais oficiais."

Ao reconhecer que a igreja lança candidatos e pede voto, o pastor disse ser necessário manter "a doutrina". "O candidato da minha igreja, eu ponho ele no púlpito, eu ponho ele na minha casa, eu ponho ele no meu carro, eu ponho ele onde eu quiser. Outros candidatos de fora, não", afirmou.

"Quem trouxe a política para o ministério da Assembleia de Deus fui eu porque entendi que existem interesses da igreja, especialmente legais. Alguns deputados estão fazendo coisas meio marotas contra nossa doutrina pública, que precisamos manter."

Fonte: JTNEWS com informações do UOL Notícias

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