Geral

Pés no chão

"Do livro em construção, SUSSURROS DO MUNDO"

Foto: Reprodução
Escritor Flávio José Pereira da Silva
Foto: Reprodução
Pés no chão

Eu convivi com um rapaz tão cheio de dor, que esta transbordava e machucava a qualquer pessoa que dele se aproximava. 

Era um indivíduo sem direção; um bêbado sobre uma corda bamba; uma criatura desesperançosa; um elemento inconsequente e arrogante... não era gente! 

Eis que, em 19 de agosto, foi presenteado com um par de pezinhos que cabia em uma de suas mãos. E com esses pés pequeninos, o homem passou a ter um norte, a andar com equilíbrio e a ter esperança de que, apesar de tantos espinhos no trajeto, atravessar a estrada da vida poderia ser convidativo feito caminhar na areia da praia. 

Os pezinhos chutaram para longe a petulância, deram um drible na inconsequência e fizeram um lindo gol de prudência narrado na crônica do infeliz personagem. 

Hoje, abusando da sinédoque, os pés cresceram e fizeram gigante o coração de um pai. E não configura hipérbole quando ele me sussurra que jamais existirá físico ou matemático no mundo que consiga quantificar o tamanho da pegada que sua filha nele marcou. 

Confessou-me que a primogênita não está só próxima dele: ela está dentro, do lado e acima; que sua embriaguez é puramente de ternura; e que, quando dói, são pontadas lancinantes de amor. 

Na condição de um disciplinado professor de língua portuguesa e um  dedicado aprendiz da jornada, o humilde mortal disse-me que inexiste figura de linguagem suficiente para descrever o sentimento de amar. 

Sob lágrimas, finalizou nossa emocionante conversa declarando que Bianca transformou aquela corda fina e bamba, que ele mal conseguia enxergar, em uma estrada larga e muito bem sinalizada, por onde passa em segurança até mesmo quando, impiedosamente, os pés alguém lhes fere.

Foto: Reprodução
Escritor Flávio José Pereira da Silva

Fonte: JTNEWS

Última Notícias