Até os 25 anos de idade, David Oliveira, comunicador digital, hoje com 29, nunca tinha feito um teste de HIV, segundo ele, por preconceito. "Não me considerava uma pessoa suscetível a essa infecção, os parceiros e parceiras com os quais me relacionava não aparentavam ser 'doentes' que tivessem o vírus e pudessem me transmitir".
Em meio ao tratamento de uma pneumonia, Oliveira fez vários exames de sangue, entre eles, o de HIV. Ele conta que, de forma fria e indelicada, ouviu da enfermeira da UBS (Unidade Básica de Saúde) que o exame de HIV deu reagente e que ele deveria procurar os últimos dez parceiros com quem teve relação sexual para informar a situação.
"É importante que nesse momento a pessoa receba o resultado por um profissional capacitado, com uma boa escuta, que possa dar apoio emocional, orientação e encaminhamento, pois muitas dúvidas precisam ser esclarecidas", pondera Bethania Cunha, psicóloga e aconselhadora da Clínica do Homem no Recife pela AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), organização global que atua na prevenção, diagnóstico e tratamento de HIV/Aids.
O paciente deve manter a calma e compreender que o diagnóstico de HIV está longe de ser o fim do mundo ou uma sentença de morte como muitos acreditam, é o que reforça Wandson Padilha, diretor da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e médico do Ambulatório de Atenção Integral a Saúde de Pessoas Trans e Travestis de Petrolina, em Pernambuco.
De acordo com ele, com o tratamento adequado, a pessoa com HIV viverá como qualquer outra que tem uma doença crônica, como diabetes e hipertensão, por exemplo. Ela terá a possibilidade de se relacionar, ter filhos, se divertir, trabalhar e viver sua vida.
O que fazer? O primeiro passo após receber o diagnóstico é procurar atendimento no local adequado para dar início ao tratamento. Esse lugar pode variar: em alguns municípios o acompanhamento é feito na própria UBS com o médico de família e comunidade. Em outros, é realizado pelo infectologista no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) ou no SAE (Serviço de Assistência Especializada).
Existe uma rede nacional para o atendimento desses pacientes com vários serviços espalhados pelo país, que podem ser consultados no site: www.Aids.gov.br.
A segunda etapa consiste na realização de exames que determinarão a carga viral, ou seja, a quantidade de vírus circulante no organismo e exames que indicam a quantidade de linfócitos de defesa existentes.
"Através da contagem de células CD4, CD8 e a relação entre elas, é possível verificar o estado imunológico em que o indivíduo se encontra", explica Leila Azevedo, infectologista, gerente de Atenção a Saúde do CEDAP (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa), unidade da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, referência no diagnóstico e tratamento de HIV/Aids e membro da diretoria da Sociedade Baiana de Infectologia.
Tratamento o mais rápido possível
Após a coleta dos exames, o paciente deve iniciar o tratamento com os medicamentos antirretrovirais, ingeridos por via oral, que impedirão a entrada do vírus nas células de defesa, com isso, a medula vai gradativamente produzindo novas células e recuperando a imunidade da pessoa vivendo com HIV.
Além disso, o tratamento correto impede que a pessoa desenvolva a doença, a Aids, evita também o surgimento de infecções oportunistas, reduz a mortalidade, aumenta a expectativa de vida e diminui a transmissibilidade do vírus.
"Com o uso contínuo e regular dos medicamentos, a pessoa atinge a carga viral indetectável, ou seja, com o vírus sob controle, ela não transmite o HIV para outros indivíduos", complementa a infectologista.
Aceitar o diagnóstico e procurar rede de apoio
Aceitar e acolher o resultado positivo de HIV é importante para a adesão ao tratamento. "O paciente precisa tomar consciência dos sentimentos e sensações que o resultado lhe desperta e assumir o diagnóstico, só assumindo o que tem ele desenvolverá o autocuidado", diz a psicóloga do Recife.
Um sentimento comum de quem recebe o diagnóstico é se sentir sozinho, mas é essencial a pessoa saber que existem vários serviços de saúde e organizações da sociedade civil que realizam ações de assistência, prevenção, diagnóstico e tratamento.
Esses serviços oferecem apoio psicológico e social, cuidados e orientações por enfermeiros, atendimentos médicos em infectologia, ginecologia, pediatria e odontologia.
Ter uma rede de apoio bem estabelecida foi fundamental para David Oliveira encarar o tratamento de forma leve. "Escutar que eu era forte e admirado me fez ressignificar todo o meu sofrimento. O apoio dos meus familiares e amigos me ajudou na aceitação, autoestima e empoderamento".
Estigma social ainda é pesado
Nesse sentido, o médico de família e comunidade reforça a importância de desmistificar o diagnóstico. "A pessoa que recebe o diagnóstico de HIV recebe junto o peso do estigma social, que na maioria das vezes é mais danoso e prejudicial que o próprio vírus, bem como o sentimento de culpa, que de modo algum deve ser reforçado, visto que não é real".
"As pessoas ainda acham que ter HIV e ter Aids são a mesma coisa. Aids é a síndrome que se desenvolve quem não faz o tratamento adequado e consiste numa queda de imunidade que deixa a pessoa suscetível ao desenvolvimento de doenças oportunistas. A maioria das pessoas diagnosticadas precocemente e que faz o tratamento correto não desenvolverá a Aids. Desmistificar isso é importante para que mais diagnósticos sejam feitos" , afirma David.
Em busca de informação para saber como seria conviver com o vírus, Oliveira se tornou um militante ativista do movimento HIV/Aids. Atualmente, ele participa da Rede de Jovens São Paulo Positivo e tem um grupo no WhatsApp em que acolhe, é acolhido, informa e impacta a vida de pessoas vivendo com HIV com palavras positivas, encoraja as pessoas a não ter preconceito, a fazer o teste de HIV e afirma: "Existe vida após o diagnóstico".
Fonte: JTNEWS com informações da UOL