Amamentação
Será que existe leite anterior e leite posterior?Muitas grávidas já ouviram (ou ainda ouvirão) a seguinte frase:
“Primeiro tem que esvaziar uma mama para depois oferecer a outra, porque só assim o bebê vai mamar o leite posterior.”
Mas isso é verdade?
Não! Não existem dois tipos de leite.
Teorias antigas (e em desuso) diziam que existiam dois tipos de leite na mama: o leite anterior e o leite posterior, separados pelo início e fim da mamada.
É mito que o leite anterior, do início da mamada, é mais magro (rico em água e pobre em gordura)!
É mito que o leite posterior, do final da mamada, é mais gordo (rico em gordura e pobre em de água)!
Por que essa teoria não é verdade?
Essa divisão é muito simplista e não explica o que realmente acontece durante a amamentação.
VEJA A FOTO ABAIXO:
Essa fotografia mostra o leite do início e o leite do fim da mamada. Mas não mostra a mudança “gradual” que acontece durante a amamentação.
O leite muda a sua composição enquanto o bebê está mamando.
Por que o leite muda durante a mamada?
Porque o leite materno é dinâmico.
Lembra que as mamas são fábricas e não estoques de leite?
A mama não “esvazia”, porque ela não é um depósito e sim uma fábrica. Ela vai funcionar conforme a demanda, ou seja, o volume de leite que sai é adaptável às exigências da criança. Quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido.
Somente um terço (1/3) do leite está pronto na mama e dois terços (2/3) serão produzidos enquanto o bebê está mamando.
É na gravidez que as mamas se preparam para produzir leite?
O preparo das mamas para a amamentação começa na puberdade da mulher, na gestação e no pós-parto. Mas para não ficar longo e complexo demais, mostrarei o que acontece após o nascimento do bebê.
Falando tecnicamente, é assim que acontece a produção e a saída do leite:
Para que ocorra a produção e a saída do leite, é necessária uma comunicação entre o bebê (que suga a mama) e a mãe (que sente e vê o bebê sugar).
Quando o bebê começa a mamar, ocorre um estímulo no cérebro da mãe. A hipófise, uma glândula localizada no cérebro, recebe esse estímulo e inicia uma série de eventos, onde os hormônios prolactina e ocitocina entram em ação na corrente sanguínea, iniciando a produção e saída do leite:
1) Ocitocina: Ao amamentar, o bebê realiza a sucção do mamilo, para puxar o leite para si. O ato de colocar o bebê para amamentar, logo após o parto é um estímulo fundamental para a secreção de ocitocina.
As glândulas mamárias são formadas por células produtoras de leite (alvéolos) que e por células musculares (células mioepiteliais) que se contraem e ejetam o leite produzido. Essas células musculares são acionadas pela ocitocina, que faz com que elas se contraiam em volta dos alvéolos e ejetem o leite para fora deles. Para que tudo isso aconteça é fundamental o contato mãe-bebê, o mais rápido possível.
2) Prolactina: A secreção da prolactina ocorre, semelhantemente, a da ocitocina. O bebê necessita amamentar, após o parto, para estimular a produção de prolactina. A sucção envia estímulos ao hipotálamo, até que a prolactina seja liberada e vá, então, atuar nas células alveolares das glândulas mamárias. Graças ao efeito lactogênico (que gera a produção), a prolactina faz com que o leite seja produzido pelas células alveolares.
IMPORTANTE: A ocitocina (liberada no ato do bebê sugar o seio da mãe) também é liberada por estímulos visuais e emocionais: tais como visão, cheiro e choro da criança, motivação, autoconfiança e tranquilidade. Mas pode ser inibida/bloqueada por dor, desconforto, estresse, ansiedade, medo, insegurança e falta de autoconfiança, prejudicando a saída de leite da mama.
Só relembrando, a mãe precisa de tranquilidade para amamentar!
Mas e a gordura do leite? Só está no leite posterior?
Não, não está!
Os alvéolos (que produzem o leite) ficam bem cheios (e esticados) e as células de gordura ficam grudadas em suas paredes. Quando o leite é ejetado para fora dos alvéolos (pela ação da ocitocina), as células de gordura se desgrudam das paredes. Isso pode acontecer 2 a 3 vezes (ou mais) em cada mama, durante a amamentação, por isso, a concentração de gordura vai aumentando gradualmente no leite, à medida que o bebê mama (graças ao reflexo de ejeção). Os alvéolos vão se relaxando (ficando menos esticados), conforme a mama esvazia e a gordura vai saindo com mais facilidade. O leite sai dos alvéolos para os ductos (tubos que conduzem o leite até o bico do seio) e para a boca do bebê. Daí a percepção (errônea) de que o final da mamada tem mais gordura, mas não é verdade. Apenas mostra que o relaxamento faz com que a gordura, presente no leite, se solte e seja transportada com mais facilidade.
A ocitocina e a prolactina são liberadas, periodicamente, durante toda a mamada, por isso a gordura está presente em toda a mamada, não apenas no final.
RESUMINDO:
Voltando à fotografia dos dois copos de leite, o que se observa é a diferença de gordura das duas amostras, mas não o que acontece “entre” as duas amostras. O aumento da gordura ocorre durante toda a mamada.
Falando de maneira prática, o leite gorduroso vem com o reflexo de saída do leite e não quando o bebê está terminando de esvaziar a mama. Por isso não podemos falar em leite anterior e posterior, mas sim de aumento gradual da gordura.
Então, por que os termos ANTERIOR e POSTERIOR?
Resumidamente, eles referem-se ao reflexo de ejeção do leite, não ao início e ao fim da mamada. Enquanto o bebê mama, esses reflexos de ejeção acontecem por algumas vezes, então, a composição do leite varia, bem como sua coloração, proteínas, água e presença de mais ou menos gordura.
Curiosidades sobre a gordura do leite:
- A gordura do leite pode variar de uma mãe para a outra?
Sim! Depende da dieta da mãe. Se a dieta dela for rica em peixes (azeite de oliva, castanha, chia, coco, abacate), o seu leite vai ter maiores concentrações de gordura saudável; enquanto quando ela consome muita gordura saturada (leite e derivados, banha, carnes bovina e suína) ou gordura trans (alimentos industrializados e ultraprocessados: biscoitos, sorvetes, massas instantâneas, margarina), pode acontecer a transferência dessas gorduras para o leite materno. Se a mãe é obesa, seu leite contém mais gordura saturada e trans que o leite de mães mais magras.
- A gordura presente no leite pode variar durante o dia?
Sim! A sua quantidade pode ser maior à noite. Justamente para deixar o bebê mais saciado e dormir por mais tempo nesse período.
- O leite varia de uma mamada para outra, ao longo de um dia e varia de mãe para mãe. Não existe uma regra fixa, não é uma fórmula mágica. O bebê precisa é de mamar!
- O padrão da sucção e a forma que ele mama também varia durante o dia e com o passar do tempo. Ele vai treinando e a mamada vai ficando cada vez mais eficiente. Ele pode diminuir o tempo, mas a quantidade retirada de leite é a mesma.
Quais são as orientações para a mãe ou futura mamãe?
- Ela precisa estar tranquila para amamentar, porque a ocitocina é "temperamental", ou seja, o bem-estar da mãe é fundamental para que o leite seja liberado.
- Amamentar o bebê por livre demanda, especialmente, nos primeiros meses de vida.
- Oferecer as duas mamas sempre que o bebê for amamentar. Assim a produção é garantida e as mamas serão estimuladas.
- Observar se o bebê abocanha toda a aréola e se está bem juntinho do seu corpo, para que ele mame de maneira eficaz e não lhe cause dor.
- Se você estiver trocando de 6 a 7 fraldas com xixi em 24h, significa que ele está com uma boa ingestão de leite.
- Procure ajuda profissional para corrigir a posição e a pega do bebê no seio. Cerca de 90% dos problemas relativos à amamentação envolvem essa questão.
- Se o bebê estiver com alguma dificuldade para a retirar o leite do peito, ele não conseguirá mamar todo o leite que precisa ou não está conseguindo mamar nada! Procure ajuda o quanto antes.
Procure uma especialista no assunto. Quanto antes intervir e corrigir os problemas, menor será o risco de desmame precoce e de problemas nas mamas.
Sim, existem alternativas. Sim, para tudo se dá um jeito. É impossível estipular uma regra geral para todos e que todos devam seguir. Cada mãe-bebê construirá a sua história de amamentação…
Está grávida? Ou conhece alguém que esteja?
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Tem dúvidas sobre aleitamento materno?
Posso lhe ajudar!
Graziela Mantovaneli
Enfermeira em Pediatria e Neonatologia
Consultora em Aleitamento Materno
Instagram: @enf.grazi.mantovaneli
REFERÊNCIAS:
Sociedade Brasileira de Pediatria; Fiocruz; Anatomia e Fisiologia da lactação; Ministério da Saúde; UNICEF; Benefits of breastfeeding; Biomechanics of milk extraction during breast-feeding.
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