Ministro da Educação revoga cotas na pós graduação no apagar das luzes
Mas o que são cotas e o que é a ação afirmativa?Faltava pouco para o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, ser ex-ministro. Desgastado pelo linguajar vulgar, incompatível com o cargo, tendo feito ameaças e ofensas de baixo calão aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, e ataques sem fim à Universidade Pública e ao maior parceiro comercial do Brasil, a China, Weintraub só se manteve no governo pelo apoio irrestrito da área ideológica, mais conservadora, do regime Bolsonaro, aquele grupo formado, inclusive, pelos filhos do presidente, que segue cegamente o “ideólogo” do governo, o autodenominado “filósofo” Olavo de Carvalho, brasileiro que imigrou para os Estados Unidos em busca do sonho americano e que vê comunistas até embaixo da cama.

Horas antes de deixar uma administração desastrosa à frente do Ministério, em que não obteve nenhuma conquista para a educação brasileira, Weintraub revogou, a partir de 18 de junho, uma portaria de 2016 estabelecendo a política de cotas para negros (pretos e pardos), indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Apesar de já ter 4 anos, a medida ainda estava em estudo em várias universidades públicas.
O sistema de reserva de vagas em cotas para grupos historicamente desfavorecidos, chamado de Ação Afirmativa, não é novo no mundo. Nasceu na India, logo após a independência, em 1947. Imensa colcha de retalhos de línguas, tribos, castas e religiões, a India decidiu tentar corrigir uma injustiça histórica, que condenava as pessoas nascidas na casta dos párias a uma vida de miséria, servindo às demais castas em serviços humilhantes e perigosos. Segundo a filosofia religiosa dominante no país, o hinduísmo, os párias são a primeira encarnação como humanos de espíritos que viveram, até então, em animais. Consequentemente, os párias deveriam servir as castas mais elevadas, como os animais também o faziam. Sem acesso à educação ou à saúde, já que os médicos de castas superiores não podiam tocar em doentes dessa casta, sem direito ao trabalho digno, vivendo em favelas, os párias não teriam como galgar a escala social sem a proteção do Estado, concluiu o governo indiano, estabelecendo cotas nas universidades e no serviço público.
Duas décadas e meia depois, a influência indiana chegou ao Ocidente. Estados Unidos criaram, a partir dos anos 1970, um amplo sistema de cotas nas universidades, na esteira do combate ao sistema racista que vigorava ainda nos estados do Sul do país. Mas não parou aí, empresas privadas passaram a ter que provar a existência de minorias em sua estrutura organizacional, incluindo posto de chefia, para conseguir contratos públicos.
Na Europa, a Grã-Bretanha teve que adotar políticas afirmativas na turbulenta Irlanda do Norte, onde a minoria de origem católica-irlandesa pegou em armas contra a maioria, protestante de origem britânica. A Irlanda do Norte, chamada de Ulster pelos invasores britânicos, viu os irlandeses, católicos, serem expropriados de terras e bens e expulsos em massa nos séculos XVII e XVIII. Os que ficaram foram reduzidos à pobreza, sem acesso a bons empregos. Daí o levante no final dos anos 60, com o massacre de católicos no Domingo Sangrento, cantado pela banda U2 em Sunday, Bloody Sunday.
Sem poder negar que a injustiça social estava na base da violência, o governo de Londres adotou as ações afirmativas, permitindo o acesso à minoria católica-irlandesa aos empregos e cargos no serviço público.
Mas, e aqui no Brasil, país onde, gostamos de dizer, não existe racismo, onde todos são iguais sem sofrer nenhum preconceito? Existe a necessidade de compensar algum grupo por não ter as mesmas condições de acesso à educação e ao emprego? Participamos todos do mesmo jogo da vida, com as mesmas regras e condições, ou o nascimento num grupo racial já serve de primeira barreira para o próprio desenvolvimento do indivíduo, definindo pesadas limitações impostas pela própria sociedade? Será que existe no Brasil um racismo camuflado, um racismo estrutural, ou seja, que vicia a própria estrutura da nação e que passa desapercebido por quem não o sofre na pele? São perguntas retóricas, claro.
“Em preto meu, bato eu”, “é coisa de preto”, “índio é vagabundo” ... e assim vai. As expressões estão aí soltas na sociedade, há séculos dizendo a mesma coisa: somos racistas, julgamos as pessoas pela cor da pele e, também, pela origem.
Quando cheguei ao Piauí, vivi o preconceito reverso, sendo xingado por alguns alunos da UFPI nas redes sociais como “homem branco do Sul”, “esse paulista”, e muitas palavras de baixo calão, tão próximas das usadas pelo ex-ministro Weintraub.
O preconceito dói bastante quando o sofremos pela primeira vez, como no meu caso. Imagine, então, quem passa uma vida enfrentando-o no dia-a-dia. Concluindo essa lógica, quem acha que cotas não são necessárias para tentar reduzir os erros da história, certamente não vive o drama diário de quem entrou nessa luta - que é a vida - com menos possibilidades de vitória, unicamente porque nasceu com a cor errada, segundo a visão racista predominante.
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