Não aos radicais! Não à depredação do patrimônio público!
A estátua do bandeirante Borba Gato precisa continuar onde estáUma estátua esteticamente feia, erguida há pouco mais de 60 anos, é a marca do bairro de Santo Amaro, na Zona Sul da capital paulista, um bairro antigo, do início da colonização portuguesa, que foi cidade até ser incorporado de vez à metrópole.
No sábado, 24 de julho, a estátua feia ganhou o noticiário nacional ao ser atacada por radicais do grupo Revolução Periférica. Eles colocaram pneus ao redor da estátua e puseram fogo, alegando que a estátua homenageia um homem que matou e escravizou indígenas durante as bandeiras que partiram de São Paulo em busca do ouro e dos diamantes das Minas Gerais nos séculos 17 e 18.
Os bandeirantes são onipresentes na memória paulistana. Antes admirados, deram nomes a rodovias e monumentos, como o das Bandeiras, no Parque do Ibirapuera, esculpido pelo renomado Victor Brecheret. Antes eram vistos como os principais responsáveis pela expansão da fronteira brasileira, incorporando o Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, indo sertão adentro. Mas hoje, a história conta também que, para fazer isso, dizimaram e escravizaram povos indígenas que apareciam pelo caminho. Os heróis viraram maus.
Com base nessa visão, radicais acham que é preciso destruir as lembranças dos bandeirantes. Acabar com as homenagens... esquecer o que fizeram. Destruir o passado e suas lembranças... É um radicalismo ideológico que volta e meia assombra a humanidade.
Em 2001, por exemplo, os radicais islâmicos do Talibã, que governava o Afeganistão, dinamitaram as duas mais altas estátuas de Buda do mundo, esculpidas na montanha há mais de mil anos. O Talibã não suportava a ideia de que aquela região ao norte do Afeganistão um dia foi um reino budista que venerava imagens, algo proibido pelo Alcorão. O mundo ficou chocado com o ato de barbárie inspirado na fé.
Mas esse horror voltou a se repetir na região, desta vez no Iraque dominado pelo radicais islâmicos do grupo ISIS. Eles invadiram o museu arqueológico de Mossul, situada na região do antigo Império Assírio, e destruíram tudo a marteladas. A relação de tesouros arqueológicos destruídos para sempre inclui cidades inteiras e pode ser vista nesse artigo: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/01/13-locais-historicos-destruidos-pelo-estado-islamico.html
As esculturas que sobraram da antiga Nínive, capital assíria, são as que foram levadas nos séculos 19 e 20 para os museus da Europa. O Museu Britânico e o Louvre, entre outros, se tornaram, assim, os protetores desse passado da humanidade.
O ódio ao que o passado representa não pode ser, diante desse exemplos horríveis, justificativa para sua aniquilação cultural.
O Coliseu, de Roma, onde tantos cristãos foram martirizados, não deve ser demolido. A Casa Grande, onde vivia o senhor de escravos, não deve ser incendiada. O campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, não deve ser apagado do mapa. As marcas do passado da humanidade, dolorosas ou não, devem ser preservadas.
A destruição de qualquer estátua dos Bandeirantes não vai alterar o passado. Mas a permanência dela ali, sim, servirá de referência para sempre daquele momento histórico - genocídio indígena, escravização - por ela representado. O termo é ressignificar, ou seja, dar novo – ou mais completo – entendimento à obra, ao monumento, ao próprio passado.
Borba Gato deve, portanto, ficar onde está. E o povo deve aprender quem foi e o que fez aquele personagem histórico.
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