O Golpismo contra-ataca; por Rômulo Plácido
Querem transformar a vítima em algoz; vídeos "descontextualizados" não alteram a verdadeA partir de vídeos manipulados para se adequar a uma narrativa falaciosa, os setores golpistas que provocaram os atos criminosos de 8 de janeiro de 2023 pretendem atribuir ao atual governo federal a responsabilidade pela invasão das sedes dos Poderes da República e pelo vandalismo do patrimônio público.
A Revista Veja, em artigo publicado em 21/04/2023, sob a responsabilidade da jornalista Marcela Mattos, registra “Aquele 8 de janeiro ainda estava longe de terminar (...). O governo estava acuado, assustado e tinha uma certeza: a invasão e a depredação dos prédios públicos eram apenas a primeira fase de um golpe que ainda estava em andamento para tirar Lula do poder.
Havia também a convicção de que setores militares estavam diretamente envolvidos na trama. O “sumiço” da tropa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) provava que havia uma conivência cúmplice com a turba de vândalos. Atônito, o presidente cobrava uma reação enérgica e imediata. Apoplético, conforme a definição de um de seus auxiliares, Lula ordenou que, ainda naquele dia, o acampamento erguido próximo do quartel-general do Exército fosse desmobilizado – e os envolvidos nos ataques, devidamente presos. (...) A ordem, como se sabe, não foi cumprida (...)”.
Ora, até as pedras de Brasília sabem que havia e, infelizmente, ainda há setores militares e das forças de segurança pública flagrantemente contrários à eleição e à instalação do atual governo federal. A contaminação do setor militar e das forças públicas de segurança atingia todos os estamentos, desde o agente público de mais baixa graduação até as patentes mais elevadas, que são obviamente colegas de longa data daquelas autoridades militares que vêm ocupando posições "chave" na área de segurança do atual governo federal.
Vale destacar que em 08 de janeiro o novo governo havia tomado posse há poucos dias e a segurança do Palácio do Planalto ainda estava sob a responsabilidade de muitos agentes escolhidos pelo governo de Jair Bolsonaro. Logo, a lógica recomenda que haveria enormes dificuldades e até constrangimentos das autoridades militares legalistas incumbidas de reprimir o banditismo que livremente invadiu e depredou prédios públicos que são sede dos Três Poderes.
Agora, daí a responsabilizar direta e pessoalmente o atual Presidente da República, pela invasão e depredação do patrimônio público é algo que se revela absurdo. Acaso o Chefe de Governo fosse assim tão permissivo, Lula da Silva incidiria em um sério e desnecessário risco para a sua própria permanência no poder.
Isso, simplesmente pela razão de que o Lula não teria como controlar as subsequentes ações dos golpistas que poderiam levar a uma adesão de toda a massa de eleitores de Jair Bolsonaro ao movimento golpista que, por sua vez, poderia também conferir o respaldo popular necessário a uma intervenção militar mais efetiva de setores de plantão das Forças Armadas, interessados na tentativa de golpe em curso naquele fatídico dia 08 de janeiro.
Hoje é fácil olhar pelo retrovisor e deduzir que a tentativa de golpe não seria bem sucedida mas, naqueles decisivos instantes de convulsão, com tudo que estava em jogo, a reação natural era de apenas tentar sufocar desesperadamente o levante por todos os meios disponíveis.
É fato que a invasão das sedes dos Poderes da República e a subsequente depredação do patrimônio público representaram um erro tático dos setores envolvidos na tentativa de golpe, que, como efeito colateral, favoreceu ao final politicamente o atual Presidente da República, porém, seria no mínimo uma aventura irresponsável de Lula envolver-se ou contribuir de uma forma ou de outra com tais atos criminosos sem ter a certeza de que o movimento malograria.
Ora, estando em início de governo, é crível que Lula fosse aventurar-se em permitir ou favorecer por seus subordinados os atos golpistas criminosos de dimensões e extensões ainda não mensuráveis e de consequências também imprevisíveis?
Não nos parece verossímil que sendo Lula da Silva um político de longa experiência na militância, que ocupou a cadeira de Presidente da República antes por dois mandatos, e que exerceu forte influência nos "quase" dois mandatos subsequentes de sua sucessora Dilma Rousseff, seja tão imprudente de arriscar-se no envolvimento direto ou indireto com tão pérfidos e amalucados agentes da delinquência política que se aventuram na tentativa de golpe.
A responsabilidade direta e indireta pelos atos de invasão e vandalismo praticados no 8 de janeiro, deve ser atribuída exclusivamente a seus organizadores, apoiadores e financiadores, haja vista que ao desencadear o movimento político golpista, por si só uma atividade criminosa, as suas lideranças golpistas e seus fiadores tinham o dever de exercer controle sob seus manifestantes e inclusive, teriam que adotar medidas eficazes para prevenir e evitar que eventuais “infiltrados”, se é que de fato existiram, praticassem crimes nas dimensões e extensões verificadas nos vídeos divulgados pela mídia e que tanta comoção causaram na população.
Ademais, é fato que os líderes do golpismo desde sempre insuflaram as massas contra o Supremo Tribunal Federal e até mesmo contra o Congressos Nacional que, para eles, seriam um antro de bandidos.
Na verdade, o que se quer agora é apenas trazer para a cena política uma narrativa falaciosa de que o atual governo, sob o comando de Lula da Silva, tenha orquestrado todos os atos de vandalismos para sensibilizar a popular em seu favor, o que, como demonstramos, não se revela crível pela própria natureza de tudo que se sucedeu naquele infeliz 8 de janeiro.
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