São Paulo é bananeira que já deu cacho
Fechamento da Ford é sinal da desindustrialização do paísTarde demais para chorar o leite derramado. Todos os esforços dos últimos anos dos poderes públicos da cidade de São Bernardo do Campo, do governo do Estado de São Paulo e do próprio Governo Federal, foram em vão. A FORD, gigante norte-americana do automobislismo fechou, mesmo, as portas de sua maior e mais antiga fábrica em operação no Brasil. Neste mês de novembro, pela primeira vez em 52 anos, nenhum veículo automotor está deixando a linha de produção.
Quando a Ford tomou a decisão de fechar a fábrica, considerada obsoleta e pouco lucrativa, essa unidade ainda tinha 4 mil operários produzindo e ganhando o pão nosso de cada dia. Os cortes foram semestrais e drásticos e os últimos 650 metalúrgicos perderam o emprego no dia 30 de outubro.Desde 1967, a FORD de São Bernardo do Campo empregou cerca de 100 mil metalúrgicos, criou uma classe média operária poderosa e abasteceu os cofres do município, do Estado e do país de impostos. Além de caminhões, o bom e velho Corcel, o Escort, o Ka e o Fiesta foram os carros mais famosos a sair de lá.
A FORD não deixou o Brasil já que ainda mantém unidades menores, uma em Taubaté, interior de São Paulo, e outra em Camaçari, na Bahia. Mas, para o país, é um péssimo sinal para uma economia em crise, cheia de desempregados ou de trabalhadores informais, que sobvrevivem de bicos e sem nenhum direito trabalhista.
Para o Estado de São Paulo, é um marco da desindustrializaçao, simbolizando a perda de uma das mais importantes marcas do período áureo da riqueza trazida pela indústria. Para São Bernardo do Campo e para toda a Grande São Paulo, nem se fala... Essa região sempre foi intenso polo de atração de migrantes em busca dos empregos diretos da grande indústria e dos indiretos, a ela relacionados. O fechamento da Ford significa a perda de um cliente importante para uma imensa rede de fornecedores de todo tipo de peças, dos bancos ao rádio do carro.
O sinais da desindustrialização do Brasil são fortes. Em 2000, as exportações de produtos industrializados correspondiam a 59% da pauta exportadora. Já no ano passado, o índice caiu para 36%. A competitividade de nossa indústria despencou frente a uma série de situações externas (como a crise na economia mundial e num dos principais clientes de nossos produtos, a Argentina), mas, principalmente, internas, como o custo Brasil, formado pelos impostos excessivos, corrupção desenfreada, falta de infra-estrutura de exportação...
O resultado é que hoje a pequena Coréia do Sul exporta 570 bilhoes de dólares/ano em produtos manufaturados, enquanto o gigantesco Brasil vende apenas US$ 80 bilhões.
Mas enquanto a indústria tradicional dá sinais de exaustão nos grandes centros, como São Paulo, a nova indústria traz alento a regiões que não conheceram a riqueza da industrialização do século passado. No Piauí, por exemplo, a indústria da eletricidade cresce sem parar, gerando riqueza em impostos e empregos. É uma indústria com futuro garantido, porque é limpa, ou seja, não polui nem usa elementos poluidores. Ela é baseada nos recursos renováveis que a natureza oferece de graça ao Piauí, o vento, no caso das usinas eólicas, com seus imensos moinhos, e, claro, o sol infinito que banha o estado diariamente e que gera eletricidade pelas telas solares espalhadas pelo sertão.
Se a velha indústria de São Paulo foi referência nacional ao longo do século XX, é a moderna indústria da eletricidade do Piauí e do restante do Nordeste que deve dar o tom da indústria brasileira do século XXI.
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