Burle Marx, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer
Um encontro de catedráticos que resultou na belíssima Capital FederalQuando ouvimos sobre a arquitetura e o urbanismo de Brasília, três grandes nomes se sobressaem: Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Roberto Burle Marx. Mas qual é a relação entre esses mestres? Mostrarei nessa matéria um pouco dessa conexão.
Um breve histórico da Capital do Brasil
Brasília é a cidade planejada mais conhecida do país. Construída no governo de Juscelino Kubitschek e inaugurada em 21 de abril de 1960, era um projeto antigo (datado de 1891), que buscava desenvolver o Centro-Oeste e evitar ataques marítimos. A execução desse projeto ficou nas mãos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Niemeyer não quis planejar tudo para a nova capital, sugerindo a abertura de um concurso para o melhor projeto urbanístico da cidade, do qual Lúcio Costa foi o vencedor.
Oscar deixou seus traços e curvas (sua marca registrada) na grande maioria dos prédios públicos, nos monumentos do plano piloto e em prédios residenciais de algumas superquadras da Asa Sul. Mas foi Lúcio Costa que trouxe toda vida, funcionalidade e dinâmica para Capital Federal.
Localizada no Planalto Central, Brasília é uma cidade ampla e com suas peculiaridades: tem o formato de um avião; fica dentro de um “quadradinho” (que é o Distrito Federal); suas ruas não tem nomes, só siglas e pontos cardeais (uma verdadeira “sopa de letrinhas”, mas isso é assunto para outra matéria) e é dividida por setores (hoteleiro, escolar, hospitalar, de oficinas, de postos e motéis, de indústrias e alimentos etc).
Dona de uma arquitetura diferente e única, a capital possui muitos espaços públicos para convivência, vários parques e praças, quadras e superquadras com prédios suspensos (chamados Pilotis) para que as pessoas consigam circular embaixo deles, espaços de comércio em cada quadra, vias bem largas, eixões, eixinhos e tesourinhas que conectam a Asa Sul com a Asa Norte (e que me dão um "nó na cabeça" quando estou dirigindo!).
Brasília possui um dos maiores lagos artificiais do mundo, O Lago Paranoá, que como bem dito por Lúcio Costa é “a moldura líquida da cidade”. Ele é cortado por quatro pontes: Ponte do Bragueto, Ponte JK, Ponte Costa e Silva e Ponte das Garças.
Pouco se fala sobre Lúcio Costa, mas Oscar Niemeyer lhe deu o devido reconhecimento, publicamente:
“Não me importa dizerem que sou o arquiteto de Brasília se ao mesmo tempo disserem que Lúcio Costa é seu urbanista. A ele coube a tarefa principal: projetar a cidade, as ruas, as praças, os volumes e espaços livres. Não sou tampouco o construtor. Construíram-na o entusiasmo de Juscelino Kubitschek, a perseverança de Israel Pinheiro e milhares de operários que, anônimos, por ela se sacrificaram mais do que todos nós!”
Para fazer todo o projeto paisagístico da nova Capital Federal, Lúcio Costa convidou o amigo Roberto Burle Marx. Inovador, ele conseguiu, com primor, trazer mais vida, leveza e frescor aos moradores, trabalhadores e turistas que visitam essa linda cidade.
Brasília e os jardins de Burle Marx
A minha primeira contribuição para o JTNews foi escrever sobre a vida e a obra de Roberto Burle Marx, contando um pouco da história do homem conhecido como “O Pintor de Jardins” (Ela está disponível nesse link: www.jtnews.com.br/blogs/roberto-burle-marx.html).
A capital do Brasil é uma cidade histórica, contendo inúmeras obras de arte expostas em praças, jardins, edifícios públicos e museus. O Planalto Central é um imenso portfólio de Burle Marx, demonstrando genialidade, ecologia e beleza projetadas pelas suas mãos.
Não resisti e fui até as ruas de Brasília para observar e fotografar um pouco da arte daquele que trouxe o “paisagismo moderno” para o nosso país:
Vamos conhecer algumas de suas criações?
- Palácio do Jaburu, a residência do vice-presidente (jardim externo).
- Tribunal de Contas da União (jardins).
- Embaixadas da Alemanha, Estados Unidos, Irã e Bélgica (jardinagem).
- Eixo Monumental (praças e jardins): Toda a área passou por uma reforma, baseada nos desenhos de Roberto (de 1970) e foram concluídas em 2015, através de seu companheiro de profissão Haruyoshi Ono, arquiteto e diretor do Escritório Burle Marx).
Os ítens acrescentados pela reestruturação foram: ciclovias, espaços de convivência, espelhos d'água, fontes e poços artesianos (para toda a manutenção e irrigação).
- Palácio da Alvorada, a residência presidencial (jardim externo).
Roberto projetou lindos jardins e espelhos dágua para a propriedade. Os mais belos ficam por trás da residência presidencial, com acesso exclusivo para o Presidente, seus dependentes e funcionários do Palácio.
- Palácio do Itamaraty (jardins internos e externos).
Burle Marx projetou lindíssimos jardins externos, um jardim de inverno e espelhos dágua, inspirados na Amazônia; também um jardim suspenso, com vista para a Esplanada dos Ministérios.
- Palácio da Justiça (jardim externo, jardins laterais e jardim de inverno).
Os jardins do Palácio da Justiça são muito bonitos e bem cultivados, mas algumas plantas amazônicas (originais) não resistiram ao tempo e desapareceram. Os espelhos d'água também não exibem mais as carpas, como projetado por Burle Marx.
- Praça dos Cristais (Setor Militar Urbano).
Recentemente, foi revitalizada, mas com o compromisso de não alterar as plantas do projeto original de Roberto. O local está muito bem cuidado, repleto de flores, arbustos, árvores bem coloridas, muitos peixes nos espelhos d'água e várias espécies de pássaros com seus lindos cantos. Um verdadeiro espetáculo para olhos e ouvidos.
- Praça das Fontes (Parque da Cidade).
Visitar esse local me deixou bastante depecionada, confesso. Assim que estacionei o carro, no Parque da Cidade, busquei por alguma identificação. Depois de muito procurar, visualizei uma placa escrita "Praça das Fontes", mas não existe nenhuma fonte ativa no local. Todo o jardim está seco e totalmente abandonado. Um dia essa praça foi bela e repleta de canteiros com flores e arbustos. Só restaram algumas árvores, pedras e um gramado seco e mal cuidado.
- Quadra 308 Sul (paisagismo).
A Quadra 308 foi construída como um modelo para o Distrito Federal. Possui uma ampla área verde, um lago com carpas, prédios com cobogós e grandes janelas (apelidadas por "televisão dos Candangos"). Apesar de ser uma área tombada em 2009, sofreu uma grave alteração pela Companhia Energética de Brasília (CEB). Existia uma casa de força decorada com azulejos verdes (que se misturavam perfeitamente aos jardins); a casa foi pintada com tinta branca e colocaram arame farpado sobre a estutura, alterando e descaracterizando o tombamento. Moradores denunciaram ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), mas ainda não foi corrigido.
- Teatro Nacional Claudio Santoro (jardins).
Desde 2014, após uma vistoria feita pelo Corpo de Bombeiros, o Teatro Nacional está fechado para visitação e espetáculos. Ele necessita de uma grande reforma (com o custo estimado de 200 milhões). Em 2019, recebeu 33 milhões, doados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, destinados à reforma da "Sala Martins Pena", mas ainda aguarda a liberação do recurso pela Caixa Econômica Federal. Sendo assim, fotografei apenas o jardim externo. Percebe-se que necessita de alguns cuidados e de restaurar o paisagismo original.
A maioria dos jardins de Burle Marx foram projetados e construídos na década de 70. Alguns foram tombados pelo IPHAN, há 10 anos. Dentre eles a Superquadra 308 Sul, Praça dos Cristais, Palácio da Justiça, Tribunal de Contas da União, Teatro Nacional e Parque da Cidade. Alguns estão bem cultivados, outros um pouco desgastados pelo tempo, mas ainda mantém a essência do seu criador. De todos os que visitei, a Praça das Fontes é sua obra que está em pior estado: sem identidade e totalmente abandonada!
Foi muito bom sair um pouco da rotina para passear e fotografar os belos Jardins de Burle Marx. Todos foram bem pensados e executados, valorizando a flora nacional que é tão linda e abundante.
O clima de Brasília é diferente, um clima desértico, Tropical de Altitude, ou seja, a cidade tem um verão úmido e chuvoso, mas um inverno muito seco e frio. Marx precisou estudar bastante para saber quais espécies se adaptariam melhor aqui. Além de toda a beleza e exuberância, ele pensou em trazer frescor, especialmente, nos dias de baixa umidade (que predomina por meses), utilizando vários jardins aquáticos em seus desenhos para a capital. O costume de utilizar plantas regionais em seus projetos é sua marca registrada e conceitual, preservando e valorizando a flora brasileira em todas as suas obras.
Existem mais de dois mil projetos paisagísticos assinados por Roberto Burle Marx, no Brasil e no exterior, dentre eles o Parque do Flamengo, os jardins do Palácio Gustavo Capanema e o Calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro; os jardins do Complexo da Pampulha, em Belo Horizonte; e em Brasília, as suas obras de arte embelezam o Planalto Central, trazendo leveza, frescor e fascínio aos brasilienses e aos turistas que visitam a Capital Federal.
Após a construção de Brasília, a relação entre Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Roberto Burle Marx, ficou ainda mais fortalecida, dando origem a grandes projetos, como a criação da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 1972.
Gostou?
Deixo aqui o convite para você conhecer Brasília, uma linda cidade, onde a história da nação é contruída a cada dia.
Um grande abraço e até a próxima!
Referências:
http://portal.iphan.gov.br/
https://www.arquivopublico.df.gov.br/
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