Maria das Graças Targino

Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.
Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.

O homem: magnitude e monstruosidade

“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra”. - Haile Selassie

Uma das qualidades essenciais do jornalista como contador de histórias é olhar para o caos da vida e extrair dessa desordem uma narrativa que revele a realidade de forma mais fiel possível, de modo a estimular a reflexão do ser humano sobre os fatos sociais que o circundam, não obstante a distância geográfica. Referimo-nos à horrenda invasão da Rússia na Ucrânia no dia 24 de fevereiro do ano em curso, cuja dimensão é de difícil descrição.

Foto: Wolfgang Schwan/Anadolu AgencyO homem: magnitude e monstruosidade
O homem: magnitude e monstruosidade

Ainda que nada justifique conflitos que teimam em se estender continentes afora, os agressores sempre encontram motivações, as quais variam segundo seus interesses. No caso, as razões alegadas pelo odioso ex-espião Vladimir Vladimirovitch Putin, Presidente da Rússia desde 1999, são numerosas. A primeira refere-se à expansão no Leste Europeu da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar instalada em 1949 por 12 países, incluindo Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e França, com o intuito de defender os Estados-membros, hoje, 30 nações, dentre as quais 14 da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), criada em 1922 e dissolvida em 1991, incorporando durante 69 anos 15 nações, dentre as quais a própria Ucrânia.

Vladimir Putin (que se recusa a aceitar a denominação correta Guerra e opta, ironicamente, pela expressão Operação Militar Especial) teme a adesão da Ucrânia à Otan e contesta o direito supremo do país invadido à soberania e à democracia, visando restabelecer a zona de influência da ex-União Soviética. Sem quaisquer provas, acusa o Governo ucraniano de genocídio contra cidadãos de étnica russa que vivem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, alegando que pretende tão somente desmilitarizar a Ucrânia e cessar a ascensão do neonazismo em seu território, quando, na verdade, almeja depor o Governo ucraniano, ora sob o comando do ex-comediante Volodymyr Olexandrovytch Zelensky para assegurar maior poder.

Para os brasileiros mais ingênuos, trata-se de tema alheio a seus interesses porque está fora de sua circunvizinhança. É exatamente o contrário. É algo muito próximo de cada um de nós e de todos. Afeta o dia a dia de qualquer indivíduo com mínima consciência social. As repercussões políticas, econômicas, financeiras, industriais, comerciais, armamentistas, culturais, esportistas são inimagináveis, sobretudo, no que diz respeito ao lado humano. Não há conflito menor ou maior. Em qualquer dimensão, há sempre um lastro de sofrimento e de dor.

No caso, é uma tragédia de proporções indefinidas. Uso de armas mortais por meio de ataques aéreos, por mar e por terra, incluindo os poderosos mísseis hipersônicos; destruição de prédios residenciais e/ou históricos, alguns dos quais fazem parte do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como é o caso da capital da Ucrânia, Kiev, com construções, como a Catedral de Santa Sofia e o Mosteiro de Kiev-Petchersk; ataques a hospitais, creches, escolas, abrigos, asilos; extermínio de bebês, crianças, jovens e velhos; assassinato de jornalistas, etc. etc.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), órgão internacional criado no período pós-Segunda Guerra Mundial, no dia 24 de outubro de 1945, com a função de assegurar a paz e o desenvolvimento mundial por meio da cooperação entre os países, o número de refugiados ucranianos supera três milhões e 300 mil. São cidadãos que, apesar das condições meteorológicas, deixam para trás toda uma vida e seguem de seu país rumo à União Europeia. Até então, Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia e Moldávia são as nações que mais têm recebido ucranianos, mas a liderança do ranking pertence à Polônia, que já recebeu quase dois milhões de fugitivos.

O Brasil, por sua vez, acolheu cerca de 900 ucranianos desde a invasão russa no país. São famílias esfaceladas. Não obstante a imprecisão das estatísticas, a ONU estima, aproximadamente, 900 civis mortos, incluindo pelo menos 60 crianças, além de 1.500 feridos desde o início da Guerra, há 28 dias. Prisões. Estupros. Muita dor... 

Sem dúvida, qualquer guerra traz à tona o que temos de melhor e de pior. Às atrocidades inarráveis cometidos pelos russos e que contrariam as prescrições da ONU e do Tribunal Penal Internacional, a que compete julgar crimes contra a humanidade, crimes de genocídio e crimes de guerra, opõem-se ações de solidariedade de nações vizinhas e de pessoas de diferentes recantos.

Além de organismos internacionais de ajuda humanitária, como a Cruz Vermelha e Médicos sem Fronteira, cidadãos estão mobilizados desde os primeiros dias para fornecer água e alimentos; prover agasalhos para amenizar o frio; providenciar o deslocamento dos que fogem dos frequentes bombardeios em diferentes regiões do país; pagar “aluguéis que vão permitir a alguns poucos comprar suprimentos básicos; abrigar famílias em suas residências.

Ao tempo em que os acordos diplomáticos e as rodadas de negociação prosseguem, o ser humano expõe a dubiedade de suas ações em plena magnitude e inacreditável monstruosidade. O mundo assiste atônito um país ser literalmente devastado e um povo ser dizimado!

Maria das Graças TARGINO é jornalista e pós-doutora em jornalismo pela Universidad de Salamanca / Instituto Interuniversitario de Iberoamérica

Confira AQUI a última crônica da autora, publicada com exclusividade pelo JTNEWS.

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