Saúde

Chance de morte por COVID-19 é quatro vezes maior em pacientes com câncer de pulmão, diz estudo

Os achados são de um estudo com 411 pacientes realizado pelo A.C.Camargo Cancer Center, que apontou ainda que o risco é maior para pessoas com mais de 60 anos

Foto: Werther Santana/ Estadão
Paciente Mônica Cessari Poltronieri Chiaroni, de 52 anos, ficou um mês internada, com idas e vindas na UTI

Pacientes com câncer de pulmão têm quatro vezes mais chances de morrer se forem infectados pelo Novo Coronavírus, e a possibilidade dobra em casos de câncer hematológico. Os achados são de um estudo com 411 pacientes realizado pelo A.C.Camargo Cancer Center, que apontou ainda que o risco é maior para pessoas com mais de 60 anos e que estão em tratamento ou recebendo cuidados paliativos.

Foto: Werther Santana/ Estadão
Paciente Mônica Cessari Poltronieri Chiaroni, de 52 anos, ficou um mês internada, com idas e vindas na UTI

No caso dos pacientes com câncer de pulmão, a COVID-19 pode ser mais letal por um conjunto de fatores.

"São pacientes que têm comorbidades, como DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), e também tem a questão do tabagismo, que é comum nesses pacientes. O tratamento já é difícil e a COVID-19 ainda leva à insuficiência respiratória", explica Maria Paula Curado, chefe do Grupo de Epidemiologia e Estatística em Câncer do hospital.

Já os pacientes com câncer hematológico seriam impactados pela baixa imunidade causada pelo tratamento, especialmente a quimioterapia. 

"Neste estudo, relatamos que pacientes com câncer hematológico tiveram 2,17 vezes a chance de morte por COVID-19, o que é paralelo aos resultados de um estudo do Reino Unido. Pensa-se que os pacientes com cânceres hematológicos são mais vulneráveis a resultados graves devido à imunossupressão", diz o estudo.

Maria Paula afirma que a pesquisa é importante para nortear os especialistas ao se deparar com pacientes com câncer infectados pelo vírus.

"Se chegar um paciente com câncer hematológico ou de pulmão, tem de ter uma estratégia mais cuidadosa, mais atualizada."

A administradora de empresas Mônica Cessari Poltronieri Chiaroni, de 52 anos, foi diagnosticada com um linfoma não-Hodgkin em abril do ano passado. No mesmo mês, após a primeira sessão de quimioterapia, teve a COVID-19 e passou um mês internada.

"Foram idas e vindas entre a UTI e o quarto. Sentia cansaço e não conseguia ir da cama para o banheiro, tomava banho sentada e tinha muita dor nas costas. Não tinha posição. Deitada incomodava, sentada incomodava. Além da febre constante. Eu pensava: 'Era só o que faltava estar lutando contra um câncer e morrer de COVID-19."

De volta para casa, ainda testou positivo por duas semanas. "Sem febre, mas com um cansaço muito grande."

Recuperada da COVID-19 e com o câncer controlado - ela fez quimioterapia e um transplante -, Mônica diz que o isolamento no hospital é pior do que a restrição de saídas para não se infectar pelo vírus.

"É triste querer sentir a vida e não poder. Quando saí do hospital, meu filho foi me buscar e eu falava que queria sentir o vento bater no meu rosto. As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas, mas tudo vai ter seu tempo de volta, a balada vai voltar. Qualquer um pode pegar esse vírus. Ele está invisível, mas poderoso."

Ex-fumante e ainda em acompanhamento por ter tido um câncer de pulmão em 2017, a aposentada Maria Margarida Cruz, de 78 anos, foi surpreendida pela COVID-19 em fevereiro deste ano, mas teve uma boa evolução.

"Continuei sempre em acompanhamento, embora tenha tido um tumor muito pequeno. Tive muito cansaço e muita sonolência de dia. Depois, fiz o teste e deu positivo."

Ela só saía de casa para ir à terapia. "A psicóloga fazia exame a cada 20 dias, tinha todo cuidado, mas acabou pegando."

Maria Margarida conta que ficou muito atenta aos sintomas e foi ao hospital assim que percebeu que a saturação estava baixa.

"Meu normal era 92 ou 93 e caiu para 85. Fiz tomografia, mas meu pulmão estava limpo. Internei por dois dias para recuperar saturação, fiquei tomando oxigênio. Só eu tive na minha família, e espero ter pego por todos."

Fluxo separado

Os dados, recolhidos entre abril e agosto do ano passado, foram publicados em fevereiro e também apontaram que condutas para conter a disseminação do vírus em hospitais reduzem a mortalidade entre os pacientes com câncer.

No período avaliado, a taxa de mortes no hospital foi de 12,4%. De acordo com o estudo, outros levantamentos apontaram taxas maiores ou semelhantes. O Montefiore Health System, nos Estados Unidos, e o Gustave Roussy, na França, apresentaram taxas de mortalidade de 28% e 15%, respectivamente. O Memorial Sloan Kettering Cancer Center, também nos Estados Unidos, teve taxa de 9%

"A gente sabia que o mais importante era dar o atendimento. Não podemos abandonar o paciente com câncer, não pode ser excluído. Criamos o fluxo e comecei a investigar o que estava acontecendo nos outros centros de referência. No Inca (Instituto Nacional de Câncer), a taxa estava em 33%. É possível tratar paciente com câncer, com fluxo protegido e dinâmico. E os  pacientes têm de se sentir seguros."

Fonte: Estadão Conteúdo

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