Aumento dos casos de COVID-19 e demanda por oxigênio podem provocar caos no interior do AM
Para agravar a situação dos pacientes, nenhum município além de Manaus possui leitos de UTIDuas semanas depois da falta de oxigênio levar ao colapso as redes pública e privada de saúde em Manaus, o aumento do número de casos de COVID-19 no Amazonas deve elevar para até 135 mil m³ por dia a demanda de oxigênio nas próximas semanas.
De outro lado, a única fornecedora do governo estadual, a empresa White Martins, informou que já atingiu o patamar máximo de entrega no estado, que é de 80 mil m³/dia (quase o triplo da capacidade de produção da fábrica de Manaus).
“Qualquer eventual aumento de demanda além do patamar de 80 mil m³ de oxigênio precisará ser suprido por outras fontes ainda não participantes do processo de fornecimento do produto no Amazonas”, informou a empresa, em nota.
Sem uma definição clara sobre de onde virá esse déficit de 55 mil m³/dia caso a estimativa do governo estadual se concretize, o cenário preocupa gestores, defensores públicos e profissionais de saúde, que temem um novo colapso e mortes por falta de oxigênio, desta vez nos municípios do interior do estado.
A estimativa do aumento da demanda por oxigênio nas próximas semanas foi confirmada pelo secretário estadual de saúde, Marcellus Campêlo, que revelou que o crescimento diário do consumo do Amazonas é de, em média, 2%.
No interior, que já responde por 47% dos 6.671 casos de COVID-19 registrados no Amazonas nas últimas 48 horas, a demanda deve aumentar 66%, passando de 12 mil m³/dia para 20 mil m³/dia, segundo o secretário.
“Muito difícil prever o quanto vamos precisar [de oxigênio] numa pandemia. Mas temos inferências de que precisaremos, no futuro, entre 120 e 130 mil m³ por dia para atender interior e a capital”, explicou o secretário, sem deixar claro de onde virá essa produção extra de 55 mil m³ /dia.
Apesar da força-tarefa montada pelos governos estadual e federal para fazer os cilindros chegarem às unidades de saúde do interior a tempo, o que, muitas vezes, só pode ser feito em barcos ou aviões da FAB, muitos municípios ainda enfrentam a escassez de oxigênio diante da demanda crescente por internações.
Com pouco mais de 59 mil habitantes, Tefé, cidade pólo da região do médio rio Solimões a 600 km de Manaus, onde só se chega de barco ou avião, é uma das que mais preocupa a Defensoria Pública do Amazonas.
O órgão, que tem defensores em seis polos no interior do estado, vem atuando para tentar garantir o abastecimento nos municípios do interior e evitar situações como a de Coari, onde sete pacientes morreram após o hospital municipal ficar uma hora sem oxigênio.
A defensora pública de Tefé, Márcia Mileni, conta que o hospital do município quase ficou sem oxigênio na madrugada da última quarta (27/01). Atualmente, 36 pacientes estão internados no Hospital Regional de Tefé e 30 deles dependem do oxigênio para o tratamento.
“A gente recebeu uma comunicação, por volta de 15h [do dia 19], que o oxigênio só era suficiente até as 5h [de quarta]”, relatou.
Segundo Mileni, só às 22h da última terça (26/01) veio a confirmação de que 100 cilindros de oxigênio seriam transportados em um voo emergencial da FAB. Eles chegaram às 2h20 de quarta (27/01).
“A situação de Tefé é de muito risco, temos vivido momentos de grande insegurança em relação ao abastecimento de oxigênio”, alertou a defensora.
Para agravar a situação dos pacientes do interior do Amazonas, nenhum município além de Manaus possui leitos de UTI.
Na última quarta (27/01), 124 pessoas estavam na lista de espera por uma transferência para Manaus, 40 delas aguardando um leito de UTI. Na “fila” da haviam, ainda, outras 53 pessoas residentes na capital.
Em Manaus, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para COVID-19 é de 91% e, dos leitos clínicos, 99%, segundo a Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas.
Com consumo de oxigênio na ordem de 70 mil m³/dia, a rede pública da capital tem a abertura de novos leitos, que poderiam atender a essa demanda, prejudicada pela falta do insumo.
Segundo o secretário estadual da saúde, a “estratégia atual” é manter o fornecimento para garantir a estrutura atual e os atendimentos aos pacientes internados.
“Qualquer abertura de leito adicional tem que ter uma estratégia de sustentabilidade”, afirmou.
O Hospital Nilton Lins, pronto há mais de uma semana, só abriu as portas na última terça (26/01), após receber um abastecimento que garantisse o início dos atendimentos. Mas não com a capacidade máxima: a abertura de mais leitos depende da oferta de oxigênio aumentar, informou o governo do estado.
A unidade, que abriu 80 leitos clínicos e 22 de UTI, deveria desafogar os hospitais de referência, que atuam acima da capacidade desde dia 14, quando o sistema de saúde de Manaus entrou em colapso por falta de oxigênio.
A enfermaria de campanha montada pelas Forças Armadas em parceria com governo do Amazonas no hospital Delphina Aziz, zona norte da capital, só foi inaugurada na última quarta (27/01) porque recebeu duas mini usinas, que vão garantir o abastecimento dos 57 leitos.
O governo do Amazonas informou que sete mini usinas independentes de oxigênio, com capacidades variadas, devem ser instaladas nos municípios de Manacapuru e Itacoatiara e em outras cinco unidades de saúde de Manaus até o fim desta semana.
Segundo a pasta, outras 20 mini usinas de oxigênio foram enviadas para os municípios do interior, por meio de ações conjuntas com o governo federal e as prefeituras, e também fruto de doações.
Já o fornecimento na capital nos últimos dias vem sendo garantido por um abastecimento de 160 mil m³ de oxigênio que chegou a Manaus em balsas, no último domingo (24/01), em um comboio de carretas que partiu de Porto Velho pela rodovia BR-319.
O Ministério da Saúde informou que, após reuniões com o comitê de crise em Manaus, a atuação do governo federal no estado deve receber o reforço de outros nove ministérios, além da secretaria estadual de infraestrutura, para garantir o aumento da entrega diária de oxigênio para Manaus para 89 mil m³ nos próximos dias.
Fonte: Folha de S. Paulo
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