O fantástico conto do avesso; por Flávio de Ostanila
"O suposto servidor finalmente entendeu que, na vida real, ser honesto e eficiente significava manchar a admirável desonestidade e a briosa ineficiência que caracterizavam a máquina pública"Era uma vez uma cidade imaginária, de um estado hipotético, de um país de faz de conta. Nessa terra fictícia, havia um servidor público utópico de uma secretaria irreal.
![Flávio José é agente penitenciário e escritor](/media/image_bank/2019/8/flavio-jose-e-agente-penitenciario-e-escritor.jpg)
Aprovado em concurso de provas e títulos, inicialmente o ocupante do cargo supôs que, para ser reconhecido pelo governante, deveria ser competente e seguir a lei e a moral.
Os anos se passavam, e o incauto trabalhador não recebia nenhuma forma de reconhecimento nem incentivo. Pelo contrário, era alvo de processos disciplinares que, em um cenário normal, deveriam recair sobre colegas malfeitores. Custava-lhe compreender que o erro, para seus superiores, era a denúncia do ilícito, e não a ilicitude.
Apesar de tudo, era um incansável sonhador. Esperava pelo dia em que corruptos e demais criminosos fossem ao menos expurgados do serviço público. Não demorava, ele que voltava a ser vítima dos bilontras.
Depois de vinte anos, nove remoções, seis processos, quatro advertências, duas suspensões, um desconto na remuneração, nenhuma promoção e incontáveis calúnias, o suposto servidor finalmente entendeu que, na vida real, ser honesto e eficiente significava manchar a admirável desonestidade e a briosa ineficiência que caracterizavam a máquina pública.
A propósito, o tolo, enfim, percebia que não eram os homens que eram públicos: o público é que pertencia aos homens. E estes nomeavam chefes e protegiam os séquitos mais ímprobos e incompetentes.
O ideal servidor agora compreendia que - quando das injustas punições, a expressão "para o bom andamento do serviço", redigida por seus algozes - o que se queria dizer na verdade era: "para que possamos cometer ilegalidades em paz".
Para nosso alívio - membros da sociedade civil e servidores públicos decentes -, toda essa narrativa não passa de pura e incontestável ficção.
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa.
Fonte: JTNEWS
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