O que pedem Rússia e Ucrânia nas negociações pelo fim da guerra
Até o momento, essas conversas não produziram acordos duradouros ou um cessar-fogo, embora tenham sido usadas para organizar a criação de corredores humanitários para evacuar civis das cidadesApenas quatro dias após o início da invasão russa da Ucrânia, representantes ucranianos e russos se reuniram para a primeira rodada de negociações na tentativa de encontrar uma maneira de encerrar as hostilidades. Desde aquela primeira reunião na Bielorrússia, realizada em 28 de fevereiro, outras quatro foram realizadas entre representantes da Ucrânia e da Rússia, além de uma reunião entre os chanceleres Dmytro Kuleba e Sergey Lavrov.
A nova rodada aconteceu na cidade de Istambul, na Turquia, nesta terça-feira (29/03). Até o momento, essas conversas não produziram acordos duradouros ou um cessar-fogo, embora tenham sido usadas para organizar a criação de corredores humanitários para evacuar civis das cidades.
Ambas as partes insistem em manter o diálogo aberto, mais de um mês após o início da guerra, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou repetidamente sua intenção de se encontrar pessoalmente com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para manter as negociações.
O que a Rússia busca?
Em uma entrevista no dia 22 de março com Christiane Amanpour, da CNN, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou claramente, pela primeira vez desde o início da guerra, os quatro objetivos da Rússia na Ucrânia:
- Que a Ucrânia “livre-se do potencial militar.”
- Assegurar a neutralidade da Ucrânia, evitando assim a sua entrada na Otan e outras organizações ocidentais.
- Livre-se dos “batalhões nacionalistas” da Ucrânia, no que o Kremlin chamou anteriormente de “desnazificação.”
- Que a Ucrânia aceite que a Crimeia – anexada por Moscou em 2014 – é uma “parte inalterável” da Rússia e que Donetsk e Lugansk – regiões pró-Rússia do Donbass da Ucrânia criadas em 2014 – “já são estados independentes”.
O que a Ucrânia pede?
Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, disse à Reuters que a Ucrânia tem três objetivos nas negociações atuais:
- Cessar-fogo.
- Garantias de segurança.
- Integridade territorial da Ucrânia.
Por outro lado, Zelensky disse nesse domingo (27) em entrevista a jornalistas russos independentes que a Ucrânia está “pronta para aceitar um status neutro” como parte de um acordo de paz com a Rússia.
“Garantias de segurança e o status neutro e não nuclear de nosso estado. Estamos prontos para aceitar isso. Este é o ponto mais importante”, disse Zelensky.
“Qualquer acordo teria que ser submetido ao povo ucraniano em um referendo”, acrescentou.
Mas, em relação aos outros objetivos da Rússia, Zelenksy também disse que “os problemas de Donbass e da Crimeia devem ser discutidos e resolvidos” nas negociações de paz e que ele se recusaria a se sentar com os negociadores da Rússia se eles buscassem discutir apenas a “desnazificação” da Ucrânia.
Ele disse que a Ucrânia não discutirá os termos “desnazificação” e “desmilitarização” durante as negociações com a Rússia.
Como andam as conversações entre a Ucrânia e a Rússia
28 de fevereiro, primeira reunião – A primeira rodada de negociações ocorreu em 28 de fevereiro entre as delegações ucraniana e russa e terminou após cinco horas de diálogo na Bielorrússia, informou a mídia estatal russa.
Leonid Slutsky, presidente do Comitê de Assuntos Internacionais e membro da delegação russa, afirmou ao vivo na televisão estatal Rússia 24 que os dois lados se ouviram e encontraram vários pontos em que podem ser feitos progressos.
De acordo com o conselheiro presidencial ucraniano Mikhaylo Podolyak, ambos os lados discutiram um possível “cessar-fogo e o fim das ações de combate no território da Ucrânia”, disse ele a repórteres.
3 de março, segunda reunião – As mesmas delegações que participaram da primeira reunião se reuniram novamente em 3 de março, em Belarus.
“A segunda rodada de negociações terminou. Infelizmente, os resultados que a Ucrânia precisa ainda não foram alcançados. Há apenas uma solução para a organização de corredores humanitários”, disse o alto funcionário ucraniano Mykhailo Podolyak em um tuíte.
7 de março, terceira reunião – A terceira rodada de negociações entre a Rússia e a Ucrânia ocorreu em 7 de março e não atendeu às expectativas russas, anunciou o assessor presidencial russo Vladimir Medinsky, que chefia a delegação, na televisão estatal Rússia 24.
As partes não divulgaram o local físico onde ocorreu a reunião.
10 de março, Reunião de Ministros das Relações Exteriores – Em uma maior visibilidade, a quarta rodada de negociações envolveu o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba e o chanceler russo Sergey Lavrov na Turquia em 10 de março, e terminou novamente sem um acordo sobre corredores humanitários ou um cessar-fogo que durasse 24 horas.
Kuleba disse que “infelizmente o ministro Lavrov não estava em condições de se comprometer com isso”, mas que eles concordaram em continuar os esforços e acrescentou que ele está disposto a se reunir novamente “neste formato se houver perspectivas de discussão substancial e busca de soluções”.
14 a 17 de março, quarta reunião – As delegações retomaram as negociações na segunda-feira, 14 de março, desta vez por videoconferência e sem reunião física, confirmaram o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podoliak e o porta-voz do governo russo Dmitry Peskov.
As exigências de Kiev, disse Podoliak no domingo, são o fim da guerra e a retirada das tropas russas do país, e a Rússia se tornou “muito mais sensível à posição da Ucrânia” e “começou a falar de forma construtiva”.
As negociações entraram em uma “pausa” na segunda-feira e continuaram na terça-feira.
Enquanto isso, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse em um vídeo no Facebook no domingo que sua equipe continua trabalhando em negociações diplomáticas com a Rússia para marcar um encontro entre ele e o presidente russo, Vladimir Putin.
Zelensky, enquanto isso, disse na quarta-feira que a posição de negociação da Rússia nas negociações entre os dois países estava se tornando “mais realista”, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, sugeriu que havia “alguma esperança de chegar a um compromisso”.
Por outro lado, funcionários dos EUA e da OTAN acreditam que o presidente russo, Vladimir Putin, não recuou de suas exigências originais nas negociações da Ucrânia, e há uma forte dose de ceticismo nas capitais ocidentais sobre a credibilidade do compromisso de Moscou, mesmo quando o status dessas negociações permanece indefinido, de acordo com várias fontes informadas sobre a situação.
29 de março, quinta reunião – A rodada de negociações entre a Rússia e a Ucrânia em Istambul, na Turquia, terminou nesta terça-feira (29). A reunião aconteceu no palácio presidencial Dolmabahce com a presença do presidente turco, Tayyip Erdogan. Ainda não foram anunciados os resultados do encontro.
As conversas duraram cerca de quatro horas com intervalos ocasionais. Não está claro se as discussões continuarão por um segundo dia em Istambul.
Em um discurso televisionado aos negociadores antes do início da conversa, Erdogan pediu um cessar-fogo imediato na guerra que começou no mês passado. Segundo a TV ucraniana, a reunião começou sem aperto de mãos entre os negociadores.
Fonte: CNN Brasil
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