Procura-se amigo; por Flávio de Ostanila

Eclesiastes 6:14: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro"

Amigo: do latim, amicus. Duas possibilidades: a primeira é que a expressão venha de amare; a segunda, de animu (alma), custos (guardião), ou seja, aquele que toma conta da alma de outro. No dicionário Aurélio Buarque de Holanda, encontram-se "companheiro" e "protetor". Conclui-se que ter amizade é saber que se pode contar com alguém nas horas difíceis e nas comemorações e que, independente de onde se esteja, existe uma pessoa pronta para lhe estender a mão. 

Foto: Arquivo pessoalFlávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa

Na infância, eu tinha vários coleguinhas, com quem eu brincava na rua, jogava bola nas calçadas e nadava em barreiros. Hoje, porém, me ocorre que dois foram mais ligados a mim: um, tão faminto quanto eu, ia comigo pegar com as mãos corrós na lama do açude vazio; outro, filho de comerciante, me doava na escola parte de seu lanche. Esses dois me ajudavam a saciar a fome; os primeiros desfrutavam de momentos de lazer. Então, para que servem os amigos? 

A mim não interessam os que me enviam felicitações de aniversário no Facebook nem memes no Whatsapp; tampouco me importam aqueles que bebem cerveja, veem futebol ou discutem política comigo. No entanto isso não significa que eles não tenham valor em minha vida: são entretenimentos, distrações. Para ser de fato meu amigo é preciso estar disposto a me socorrer nos momentos de aflição. 

Quero perto de mim quem me defende sem hesitação, pois sabe de meu caráter: "amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves", conforme Milton Nascimento; e é pessoa para "chegar junto" na dificuldade, segundo Flávio de Ostanila. Insisto em ter a meu lado os que entrariam numa briga por mim, porque é exatamente isso que faço pelos meus. 

É certo que todos temos nossos próprios problemas e por eles somos responsáveis; entretanto, caso não seja para me auxiliar na solução dessas questões, eu me oponho a qualquer companhia. Se a amizade só dura o tempo de meu sorriso, prefiro sorrir sozinho assistindo a vídeos de humor na internet. 

As relações atuais me parecem muito frívolas e artificiais, logo não é o que procuro. Proponho relacionamentos indispensáveis e tangíveis. Necessito de gente sincera e sensível, que saiba enxergar a verdade e combater a mentira. É preciso coragem para seguir comigo: são muitos desafetos para enfrentar. Há que se ter altruísmo e generosidade a fim de me acudir nos endividamentos. Necessário também possuir solidariedade para me velar na doença e ser suporte para meu restabelecimento. 

E na morte, não careço de camarada lamentando meu infortúnio nem confrontando a quem caçoa de minha desgraça. Conforta-me tão somente saber que ampararão minhas filhas. 

Você, que ler este aparente classificado, não deve achar nada atraente ser meu amigo. Agora imagine este texto escrito pelo leitor! Eu que estaria do outro lado sendo o indivíduo que supriria suas faltas. Assim lhe soaria mais cômodo, não acha? Porque ser amigo não é apenas dar, mas também receber aquilo que pode ofertar.

Portanto, como escreveu Randy Newman –­ trilha sonora de Toy Story, animação Pixar Studios –­, "You've Got a Friend in Me". Em versão brasileira cantada por Zé da Viola: "Amigo, estou aqui".

Confira AQUI a última crônica do autor, publicada com exclusividade pelo JTNEWS

Fonte: JTNEWS

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