Quem eu penso que sou?
Sou o psicólogo de mim mesmo, num esforço hercúleo para não sucumbir à bebida nem às drogas; para manter a lucidez e a humanidade; para preservar a honestidade e a vidaSou um cidadão comum, que paga impostos e que trabalha para sustentar a família. Fora isso, sou aquele que mantém você seguro de criminosos de toda espécie.
Sou a pessoa que fecha o cadeado da prisão. E enquanto você dorme, sou eu quem realiza rondas no presídio a fim de evitar fugas de maus elementos.
![Flávio José, escritor, professor e batedor de cadeado](/media/image_bank/2019/8/flavio-jose-escritor-professor-e-batedor-de-cadeado.jpg)
A Polícia Militar prende os bandidos; a Civil os encaminha ao Tribunal; o Ministério Público os denuncia; o Judiciário os envia ao sistema prisional - tudo isso acontece em poucos dias. Mas sou eu que vou ver o presidiário envelhecer e vou envelhecer com ele.
Sou o louco que entra desarmado e com apenas dois colegas num pavilhão contendo cem presos. Sou eu quem, com um gesto ou a voz (e se for preciso a força física), debela um motim. E se acontece uma rebelião, sou o principal alvo de pedras, ferro e fogo ou de ser tomado refém.
Sou o cara que vistoria as celas insalubres sob o risco de contaminação com objetos. Sou eu quem aspira a fedentina dos banheiros úmidos e sujos.
Sou o operacional que faz as buscas pessoais em indivíduos violentos e doentes. Sou eu quem convive com sarna, tuberculose, hanseníase, HIV.
Sou o motorista que transporta o encarcerado a audiências e hospitais sem temer a emboscadas.
Sou para o preso seu inimigo, a quem ele ameaça e mata. Paradoxalmente sou seu salvador, a quem ele recorre nos momentos de desespero e dor.
Sou o coordenador e realizador das tarefas mais penosas da penitenciária. Mas sou o infeliz a quem o Estado paga mal.
Sou ocupante de um dos cargos mais estressantes do mundo; no entanto, políticos preferem me ver morrer a me aposentar.
Sou o psicólogo de mim mesmo, num esforço hercúleo para não sucumbir à bebida nem às drogas; para manter a lucidez e a humanidade; para preservar a honestidade e a vida.
Por fim, sou um invisível - visto apenas quando me querem punir.
Flávio José, escritor, professor, licenciado em Letras Português e Agente Penitenciário do Piauí.
Fonte: JTNEWS
Comentários
Últimas Notícias
-
Geral TSE altera data das provas do Concurso Público Nacional Unificado da Justiça Eleitoral
-
Geral Madonna começa a seguir Cauã Reymond, e web se empolga: “Ela não é boba”
-
Piauí Rafael Fonteles sanciona lei que institui a campanha “Idosos Órfãos de Filhos Vivos”
-
Segurança Pública Comissão aprova criação de cadastro de foragidos do sistema prisional
-
Política Credibilidade aponta empate técnico de Francisco Emanuel e Dr. Hélio em Parnaíba
Blogs e Colunas
Mais Lidas
-
Geral Influenciadora trans engravida mulher durante gravação de conteúdo adulto e diz estar apavorada
-
Geral Será que o Governo vai cortar os benefícios de quem precisa?; por Grazi Mantovaneli
-
Segurança Pública Liderança do Bonde dos 40 em Teresina é preso pelo GAECO do Maranhão
-
Geral Yuri Lima admite traição a Iza: "Fui um idiota e acabei perdendo tudo"
-
Geral Regina Casé visita Parque Serra da Capivara e compartilha experiência emocionante