Variante Delta pode levar a aumento de casos de Covid-19 no Brasil
A mutante que surgiu na Índia pode ser mais transmissível e ter sintomas diferentes; veja o que já sabemos sobre elaA variante Delta (antes B.1.617.2) do Coronavírus pode abrir um novo capítulo na pandemia de COVID-19. Ainda há poucos casos no Brasil, mas ela já é uma preocupação porque parece ser mais transmissível do que as linhagens anteriores.
Esse fato, somado à baixa cobertura vacinal e à flexibilização das medidas de isolamento, pode dar espaço para a Delta se replicar pelo país, alertam especialistas.
“É urgente lidarmos com ela com mais seriedade, antes que se espalhe. As variantes estão em busca de pessoas não vacinadas, e não dá tempo de ficar escolhendo o imunizante”, alerta a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Sabin Institute, nos Estados Unidos.
Como se proteger da variante Delta
A boa notícia é que a maneira de se prevenir é exatamente a mesma. “Usar máscara, manter o distanciamento social e se vacinar são as soluções”, aponta Denise. “Estamos vivendo uma queda de casos, e isso abre espaço para um relaxamento das regras, o que é um grande engano”, completa.
Para a especialista, esse respiro deveria ser usado para nos prepararmos melhor contra a nova cepa. Desde que começou a se disseminar pelo mundo em fevereiro, a partir da Índia, ela já chegou a cerca de 100 países, informa a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Ela tomou um espaço grande mesmo onde havia outras variantes que preocupavam. Ainda não vimos o mesmo ocorrendo por aqui, mas tudo pode mudar em pouco tempo”, pontua virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona Ômica, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI).
No Brasil, 15 casos de COVID-19 causados pela variante Delta foram confirmados entre 20 de maio e 6 de julho, informa o Ministério da Saúde. Seis em um navio que esteve na costa do Maranhão, três no Rio de Janeiro, um em Minas Gerais, dois no Paraná, dois em Goiás e um em São Paulo.
O que é a Delta e como ela age?
Para não estigmatizar os países em que as mutantes surgem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a utilizar o alfabeto grego para nomear as variantes de preocupação, assim classificadas porque alteram o comportamento do Coronavírus e podem influenciar o curso da pandemia.
São elas: Alfa, identificada no Reino Unido, a Beta, detectada na África do Sul, a Gama (ou P.1), que surgiu no Brasil, e a Delta, descoberta na Índia, onde se espalhou de forma crítica, causando uma segunda onda mais agressiva.
O governo britânico divulgou que a Delta pode ser até 40% mais transmissível que a Alfa, e um estudo escocês, publicado no periódico The Lancet, aponta que a variante fez crescer casos que exigiram internação naquele país.
Além das características do vírus em si, conta, ainda, o quanto se facilita a disseminação dele. “Talvez a cepa não seja tão contagiosa, mas a falta de medidas de restrição pode ter a ajudado a se espalhar com mais facilidade em algumas regiões”, aponta Spilki.
O virologista Paulo Eduardo Brandão, da Universidade de São Paulo (USP) concorda que não dá para ter certeza ainda se ela é mais transmissível ou foi mais transmitida. “Aglomerações podem ter causado uma avalanche mesmo que ela não tivesse todo esse potencial”, afirma.
A mesma dúvida paira sobre a agressividade da mutante. “Nos países acometidos pela Delta, houve um aumento de mortes e hospitalizações, mas isso pode ser em consequência do aumento de casos. Não se sabe se ela é mais letal por si só”, afirma Denise.
Sintomas leves podem confundir
Há uma pequena variação já observada na prática que tende a servir de arapuca aos brasileiros. “Se nota que a Delta traz sintomas leves, como coriza, mal-estar e dor de cabeça, sem a perda de olfato e paladar, mas tudo depende do organismo e se há comorbidades”, explica Spilki.
“O grande risco disso é que nós temos uma etiqueta respiratória muito ruim, diferente de outras nações em que não se sai de casa, nem se participa de reunião quando está gripado”, destaca o virologista.
Ou seja, uma coriza aqui não impede a pessoa de visitar a família ou ir a uma festa, e isso facilita a disseminação do vírus. Indivíduos infectados ainda podem demorar a procurar um médico pelos sintomas serem leves, e daí a chance de desenvolver casos mais graves e até internação.
Sendo Delta ou não, especialistas reforçam que os riscos e cuidados são sempre parecidos. E quem já pegou COVID-19 pode ser reinfectado com qualquer outra linhagem, com risco de apresentar versões severas da doença, mesmo com o contato prévio com o Sars-Cov-2.
Segunda dose é sempre necessária
No geral, as vacinas têm protegido contra as variantes e com a Delta não é diferente. Só que a primeira dose é ainda menos eficiente nesse contexto. “É preciso ter as duas injeções para chegar a níveis de proteção satisfatórios, mas isso é parecido ao que ocorre com as outras variantes”, explica Spilki.
A Janssen, da Johnson & Johnson, divulgou um estudo preliminar dizendo que a sua vacina, de dose única, é eficiente contra a Delta, e essa imunização deve durar oito meses. Os resultados ainda não foram avaliados por outros cientistas ou publicados em uma publicação científica, mas dá para atestar o efeito da vacinação observando a vida real.
Nos Estados Unidos, onde a Delta já se espalhou, o impacto é nítido. “Nos estados com cobertura vacinal na casa dos 60%, os casos não aumentaram tanto, ou ao menos os graves estão sendo evitados”, avalia Denise. “Mas ela segue crescendo nas regiões em que a taxa de imunizados ainda é baixa”, completa a especialista.
Como acompanhar a Delta (e as outras variantes)
“Logo que uma nova variante é descoberta, há uma série de medidas que precisam ser feitas, mas foram ignoradas no Brasil, como o rastreamento de contato dos infectados, isolamento e lockdown nas cidades em que ela surgiu”, afirma Denise.
Brandão também vê com preocupação a situação nacional. “Tudo indica que ela vai se dar bem aqui, porque a vigilância genômica molecular [rede que identifica mutações] é insuficiente. Não sabemos quantas variantes circulam em nosso território”, afirma o virologista.
Na prática, só é possível identificar uma nova cepa a partir de um sequenciamento genético, método ainda não disseminado em larga escala por aqui.
O ideal seria a ampliação do uso dessa tecnologia em uma rede nacional consolidada, de monitoramento contínuo. “Isso custa consideravelmente. Mas deixar fazer é como ir para uma guerra sem um departamento de inteligência funcionando”, defende Brandão.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que todos os “casos confirmados [da variante Delta] estão isolados e os contatos são monitorados pelas equipes de Vigilância Epidemiológica e Centro de Informações Estratégicas em Vigilância e Saúde (CIEVS) locais, conforme orientação do Guia Epidemiológico da COVID-19”.
Por fim, vale dizer que recentemente se descobriu a Delta Plus, uma subvariante que circula pelo mundo e não é muito diferente da Delta original. Ela recebeu esse nome porque não acumulou mudanças suficientes para ser enquadrada em uma nova linhagem, e ainda não foi promovida ao posto de variante de preocupação.
Fonte: JTNEWS com informações da Revista Veja
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