Amamentar é nadar contra a maré

“O aleitamento materno reduz em 13% a mortalidade até os cinco anos, evita diarreia e infecções respiratórias, diminui o risco de alergias, diabetes, colesterol alto e hipertensão, leva a uma melhor nutrição e reduz a chance de obesidade. Além disso, amamentar contribui para o desenvolvimento da cavidade bucal do pequeno e promove o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê. (Ministério da Saúde)

DIANTE DE TAIS FATOS, POR QUE É PRECISO UMA SEMANA DEDICADA À AMAMENTAÇÃO? 

Mesmo perante tantos benefícios, cientificamente comprovados, ainda existe uma rede que NÃO favorece a amamentação:

- A falta de conhecimento; 

- As dificuldades encontradas e não resolvidas no processo de amamentar;

- A falta de profissionais que realmente apoiem a amamentação;

- A falta de profissionais que saibam manejar corretamente a amamentação;

- A falta de apoio à amamentação durante a gestação, no hospital (na primeira hora e durante toda a internação), em casa;

- Licença maternidade curta e desigual (120 dias e 180 dias);

- A falta de apoio à mulher que trabalha, especialmente, no retorno ao trabalho;

- A indústria das fórmulas infantis.

AMAMENTAR É NADAR CONTRA ESSA MARÉ.

Amamentar não é um processo fácil ou automático, nem da parte do bebê, nem da mãe. É muito mais do que “ter vontade de amamentar e ser amamentado”. 

São muitas situações que colocam a amamentação em vulnerabilidade. 

São muitas lacunas a serem preenchidas para que as mulheres tenham acesso aos recursos apropriados para decidir e sustentar a decisão de amamentar. 

São necessárias ações estratégicas de apoio, orientação e acompanhamento, desde a gestação até o desmame.  

QUEM É O PÚBLICO-ALVO DA CAMPANHA DE 2024?

Aqueles que têm poder para fazer a diferença, que podem dar visibilidade e alcançar aos que mais necessitam de apoio: o Governo, as organizações da sociedade civil, formuladores de políticas, sistemas de saúde, empresários, empregadores, locais de trabalho, comunidades, pais e familiares.

O Slogan da SMAM desse ano é “Closing the gap: breastfeeding support for all”.  #WBW2024 

A tradução “adaptada” para a campanha no Brasil é: Amamentação: apoie em todas as situações - #SMAM2024. 

COMO MUDAR A MARÉ?

- Capacitar os profissionais a manejarem bem a amamentação;

- Engajar profissionais para orientar e preparar a mãe durante a gestação;

- Melhorar o índice de amamentação na primeira hora de vida, independentemente do tipo de parto;

- Prevenir as prescrições desnecessárias de fórmulas infantis;

- Auxiliar a mãe e bebê na primeira semana, que é o período mais crítico;

- Envolver os familiares no apoio à mãe e à amamentação, porque o cuidado com o bebê passa pelo cuidado com a recém-mãe;

- Buscar garantias legais que protejam e estimulem as trabalhadoras a amamentarem seus filhos, começando com a concessão de licença trabalhista que permita que elas se dediquem às crianças, pelo máximo de tempo possível;

- Proteger a trabalhadora informal.

- Encontrar meios de proteger as mulheres em situação de rua. 

DADOS DE 2019, DO ESTUDO NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INFANTIL (ENANI)  

Os dados a seguir comprovam o quanto o Brasil se esforça para manter a amamentação exclusiva, mas ainda é preciso avançar.

Dados do ENANI mostram que 62% dos bebês brasileiros são amamentados na primeira hora de vida. Esse é um número superior à média mundial, que é de 41%. 

É preciso sonhar e buscar o direito de que TODOS os bebês sejam amamentados na primeira hora de vida. 

POR QUE É IMPORTANTE ESTIMULAR NA PRIMEIRA HORA DE VIDA? 

Independentemente do tipo de parto, as dificuldades e as dúvidas que surgem nas primeiras horas (e nos primeiros dias). Se a mãe e o bebê não forem socorridos por profissionais que saibam manejar a amamentação, o risco de desmame precoce aumenta. Bebês que mamam na primeira hora conseguem ter mais sucesso na amamentação exclusiva, que é preconizada até os 6 meses. E para garantir que a mãe e o bebê tenham sucesso, é importante também envolver os familiares no apoio à amamentação. 

Os dados a seguir reforçam que quando não existe apoio, o número de bebês que são amamentados com o leite materno vai caindo:

BRASIL. Bebês amamentados na primeira hora de vida: 62,4%

BRASIL. Bebês de até 4 meses que mamaram somente o leite materno: 59,7%

BRASIL. Bebês de até 6 meses que mamaram somente o leite materno: 45,8%

Quando não existe apoio à amamentação, o número de bebês amamentados com o leite da mãe é reduzido. Esse é um dado alarmante e abre portas para a prescrição de fórmulas infantis, sem nenhuma necessidade. Tal situação é comprovada pelo dado a seguir: 

BRASIL. A duração média da amamentação, somente com o leite materno (Aleitamento Materno Exclusivo - AME), é de até 3 meses. 

Mesmo que a mãe oferte o leite ordenhado em mamadeira, a sua produção será reduzida e haverá confusão de bicos, visto que, são formas diferentes do bebê sugar. Isso o confude e faz com que ele machuque o seio da mãe e, também, comece rejeitá-lo. Em pouco tempo, ele só aceitará a mamadeira.

Os dados abaixo evidenciam que mais da metade dos bebês usam mamadeidas ou chuquinhas:  

BRASIL. Uso de mamadeira ou chuquinha: 52,1%

 

QUAIS SÃO OS RISCOS DE OFERECER AS FÓRMULAS INFANTIS AOS BEBÊS?

As fórmulas infantis foram desenvolvidas para alguns casos, mas não devem ser administradas para todos os bebês. 

Uma pesquisa bibliográfica da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN) elencou os principais riscos à saúde dos bebês e das crianças que são amamentados com fórmulas infantis:

1. Maior risco de asma 

2. Maior risco de alergias 

3. Desenvolvimento cognitivo reduzido 

4. Maior risco de doença respiratória aguda 

5. Maior risco de má-oclusão 

6. Maior risco de infecção por contaminação da fórmula 

7. Maior risco de deficiências nutricionais 

8. Maior risco de cânceres infantis 

9. Maior risco de doenças crônicas 

10. Maior risco de diabetes 

11. Maior risco de doença cardiovascular 

12. Maior risco de obesidade 

13. Maior risco de infecções gastrintestinais 

14. Maior risco de morte 

15. Maior risco de otite média e outras infecções no ouvido 

16. Maior risco de efeitos secundários de contaminantes ambientais (por ser diluído em água)

 

A SOBRECARGA DO ORÇAMENTO FAMILIAR

O uso indevido de fórmula infantil, além de trazer riscos à saúde da criança, como demonstrado, ainda sobrecarrega o orçamento familiar, pois, as fórmulas são caras.

Para facilitar o acesso às fórmulas infantis, a indústria alimentar encontrou um meio de "barateá-la", criando o ULTRAPROCESSADO “composto lácteo”. Mas, ele NÃO PODE SER CHAMADO DE LEITE e não deve ser oferecido para menores de 1 ano!

O composto lácteo possui duas versões:

1) Contém ingredientes de origem láctea (mas, não é leite), sem aditivos. 

2) Mista: composta 51% dos componentes lácteos (o que gera perda nutricional) e 49% composta por ingredientes variados, como açúcar, gordura vegetal, aditivos e outros ingredientes de uso exclusivo da indústria.

De acordo com o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos, do Ministério da Saúde, os compostos lácteos não devem ser consumidos por bebês e nem por crianças, entre seis meses e dois anos. Seu uso também não é recomendado nem para adultos.

POLÊMICA: 7 A CADA 10 PEDIATRAS SÃO PATROCINADOS PELA INDÚSTRIA DE FÓRMULAS INFANTIS

Um estudo da Fiocruz demonstrou que 70% dos pediatras recebem patrocínio da indústria de fórmulas infantis. Isso é uma prática ilegal, mas normalizada no Brasil. 

Segundo a Lei 11.265/2006, que promove e protege o aleitamento materno no Brasil, fabricantes e distribuidores de fórmulas infantis, fórmulas para crianças de primeira infância, leites, alimentos de transição e produtos de puericultura correlatos não podem conceder patrocínios financeiros ou materiais a pessoas físicas. Mas, a realidade é outra.

Conseguiu entender o porquê de tantas prescrições desnecessárias de fórmulas infantis? 

POR QUE O SUCESSO DA AMAMENTAÇÃO NÃO É UMA RESPONSABILIDADE SÓ DA MULHER?

Promover a amamentação é uma responsabilidade social coletiva. 

É preciso esforço conjunto para garantir que a mãe amamente seu bebê, especialmente, as mães mais vulneráveis ou invisibilizadas: mães na primeira semana de vida, as mães com múltipla jornada de trabalho, desempregadas, trabalhadoras informais, mães solo, mães em situação de rua. 

ATENÇÃO ESPECIAL:

Algumas mulheres não conseguirão amamentar. Meu carinho e atenção especial a elas. 

Não pode haver discriminação, visto que a amamentação envolve muitos fatores, por esse motivo, nem todas conseguirão amamentar.

Se esse é o seu caso, não se culpe e não aceite ser culpada. 

A relação entre mãe e filho é especial e única, com ou sem aleitamento materno. E ninguém pode tirar isso de você. Você não é mais mãe ou menos mãe por isso. 

Você ama seu(sua) filho(a) e ele(ela) te ama!

Receba o meu carinho: Você é a melhor mãe que o seu filho pode ter!

Um grande abraço e até breve!

Graziela Mantovaneli

Enfermeira Pediátrica e Neonatologista

Consultora em Amamentação

 

FONTES DE PESQUISA:

https://worldbreastfeedingweek.org/ 

https://enani.nutricao.ufrj.br/ 

https://enani.estudiomassa.com.br/wp-content/uploads/2023/10/Relatorio-4-ENANI-2019-Aleitamento-Materno.pdf 

https://www.revistas.usp.br/rsp/article/view/200954   https://www.scielo.br/j/rsp/a/NPSYCjqDDx4FzmBLf7SsgpQ/?format=pdf&lang=pt 

https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/2584-campanha-nacional-busca-estimular-aleitamento-materno#:~:text=Atualmente%2C%20a%20amamenta%C3%A7%C3%A3o%20exclusiva%20chega,completar%202%20anos%20de%20idade

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/noticias/2017/a-importancia-da-amamentacao-ate-os-seis-meses 

https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Aleitamento_-_UsoAbuso_FI_Maternid_RN_Sadios.pdf 

http://www.ibfan.org.br/documentos/ibfan/doc-331.pdf 

https://ojoioeotrigo.com.br/2024/03/industria-formulas-expansao/ 

https://ndmais.com.br/saude/confundido-com-leite-composto-lacteo-pode-ser-prejudicial-a-saude-infantil/ 

https://pediatriadescomplicada.com.br/2019/12/12/o-polemico-composto-lacteo/ 

https://www.scielo.br/j/ean/a/dpTZq6hcWNvsKjGcHDBzNQh/?lang=pt#:~:text=Contudo%2C%20a%20n%C3%ADvel%20mundial%2C%20entre,alimentados%20exclusivamente%20ao%20seio%20materno