Dois jornalistas ganham o Nobel da Paz de 2021
É uma mensagem de apoio a todos os que combatem mentiras, as Fake NewsO que a jornalista filipina Maria Ressa e o jornalista russo Dmitri Muratov podem ter em comum? Afinal, são de países distantes um do outro, são povos muito diferentes entre si. A resposta está no trabalho que fazem, investigando e denunciando um mesmo pesadelo: a ameaça à democracia, expressa pelo cerceamento à liberdade de expressão, a explosão das Fake News (notícias falas), o medo da violência patrocinada pelo Estado... tudo isso gestado pelos próprios governos, ironicamente levados ao poder pelo voto popular.
A Rússia pertence a Vladimir Putin, um ex-chefe do temido serviço secreto soviético, a KGB. Com as informações privilegiadas que tinha sobre os rivais políticos, passou a dar as cartas no país desde 1999, quando substituiu o alcóolatra e doente presidente Bóris Yéltsin. Desde então, realiza eleições em que sempre ganha facilmente, ou em que elege para um mandato tampão um fantoche, um aliado sem expressão política que cumprirá suas ordens. Autoritário, Putin lança campanhas difamatórias contra quem o critica. Os opositores acabam na cadeia ou, em vários casos, mortos, de forma misteriosa ou mesmo assassinados a tiros, à luz do dia.
Esse foi o destino de seis (isso mesmo, SEIS!) jornalistas assassinados enquanto trabalhavam para o “Novo Jornal” - Novaya Gazeta, em russo, jornal independente e crítico do governo Putin. O Novaya foi fundado por ninguém menos que o ex-presidente comunista Mikhail Gorbatchev, cuja política de abertura política, a Perestroika, acabou por enterrar o comunismo e a própria União Soviética. Destituído do poder, mas ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Gorbatchev usou parte do prêmio para criar essa voz independente na imprensa russa.
E é o editor-chefe do Novaya Gazeta, Dmitri Muratov, um dos dois ganhadores do Nobel da Paz de 2021, pelo esforço, segundo o Comitê do Nobel, “para proteger a liberdade de expressão, o que é uma pré-condição para democracia”.
Muratov divide o prêmio com Maria Ressa, criadora da Rappler, um site investigativo de notícias das Filipinas, arquipélago na Ásia. Para o Comitê do Nobel, Maria Ressa usa “a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo em seu país natal”, governado pelo populista Rodrigo Duterte, também eleito pelas urnas. Maria Ressa denuncia a violência desenfreada pela política de combate às drogas do presidente. Chacinas são comuns em áreas pobres, onde grupos de extermínio atuam impunemente, sob aparente conivência do governo.
Ao premiar esses dois jornalistas, o Comitê do Nobel acena aos países do mundo todo em que a violência de governos se repete contra os jornalistas e contra a imprensa livre. "Não há democracia, nem frágil ou avançada, sem liberdade de expressão (...) A ironia é que, no mundo de hoje, temos mais informação que jamais tivemos. Mas, ao mesmo tempo, temos abuso e manipulação, com as Fake News”. Para o Comitê do Nobel, as mentiras espalhadas pelas fake News representam, elas próprias, grave ameaça à liberdade de imprensa e, portanto, à liberdade de expressão da sociedade.
O Comitê do Nobel faz, portanto, uma separação importante entre liberdade de expressão e seu pior inimigo, as Fake News, espalhadas por governantes populistas e seus aliados como forma de deturpar a visão da população, convencendo-a de que o errado, o falso, o mentiroso, é, na verdade, a verdade em si mesma.
E a cura para as Fake News, tão disseminadas nas redes sociais brasileiras, até mesmo por (pseudo) jornalistas, passa realmente pelo bom remédio representado pelo jornalismo ético responsável e investigativo
Parabéns, Maria e Dmitri, pelo prêmio que os torna símbolos de uma luta mundial!
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