Notícia falsa não existe, porque se é falsa, não é notícia!
Em novo livro, a jornalista Magaly Prado nos explica o real sentido das Fake News“Fake News” é um termo em inglês popularizado em nosso dia-a-dia que, ao pé da letra, é traduzido como “notícias falsas”, assim mesmo, no plural. Elas estão por toda parte, nas mídias, nas redes sociais e mesmo nas comunicações privadas, em grupos fechados nos aplicativos, como WhatApp ou Telegram.
Espalham-se com a velocidade da luz, exponencialmente, e contaminam mentes com suas mentiras, intoxicam o corpo social, viciam pessoas com ideias malformadas, confundem pré-conceitos com preconceitos e crimes com liberdade de expressão.
Por trás delas, há robôs (bots), perfis falsos que usam algoritmos para espalhar maciçamente a mentira, para gerar ódios, criar “mitos” e desvirtuar processos democráticos, seja nos Estados Unidos, por ocasião da campanha presidencial, seja no Brasil.
E por trás dos robôs, claro, há mentes humanas, ideologizadas ou apenas trabalhando por dinheiro, muito dinheiro, para fazer com que as Fake News circulem entre o máximo de público possível para conquistar mentes para causas falsas e ideários manipulativos, distorcidos.
Pós-doutoranda da Cátedra Oscar Sala, do Instituto de Estudos Avançados, e da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, a jornalista Magaly Prado, em sua mais recente obra, Fake News e Inteligência Artificial - o poder dos algoritmos na guerra da desinformação (disponível também em e-book da Editora Grupo Almedina) - chama nossa atenção para a carga de danos causada ao nosso tecido social pelo avanço descontrolado da tecnologia da informação proporcionada pela era digital, momento em que vivemos e em que qualquer pessoa passa a ser um veículo de informação, ou, como temos visto, de desinformação.
Apuração contínua e checagem incessante são demandas originais dos jornalistas desde que existem como profissão reconhecida pela sociedade. Entretanto, blogueiros ou qualquer outra pessoa com acesso à Internet, agora se arvoram na condição de comunicadores. Comunicam sem se preocupar com as noções básicas do jornalismo, de que rumores não são notícias, são apenas mensagens que precisam e devem ser checados, investigados, antes de se tornarem públicos.
Esse cuidado ético do jornalista está em baixa já há um bom tempo, desde o início do século em que vivemos, o século da pós-verdade, ou seja, da pseudoverdade, da “falsa verdade”, manipulada de acordo com o gosto do grupo receptor da mensagem, como seu grupo da família, do trabalho, da igreja, dos amigos de cerveja... São terra fértil para a disseminação das Fakes News.
Magaly Prado abre nossos olhos para a necessidade de traduzirmos corretamente o termo “Fake News”. Ao pé da letra seria notícia falsa... Mas se é falsa, não pode ser notícia; é boato, é mentira.
Notícia, jornalisticamente falando, é um fato real, checado e comprovado pela apuração jornalística. E, se após noticiado, o fato se provar falso, aí então, aparece o momento do “Erramos”, com pedido de desculpas, da retratação e, em casos judicializados, do direito de resposta e da indenização pelos danos materiais e morais ocasionados pelo erro jornalístico.
Consequentemente, o melhor seria, como afirma Magaly Prado, trocarmos o substantivo “notícia” por “mensagem”. Aí sim estaremos usando corretamente a língua portuguesa no sentido preciso da terminologia. Fake News, ou mensagens falsas, em vez de notícias falsas.
Em sua obra, Magaly explorou intensamente o mundo do Big Data e das tecnologias informacionais, que nos assustam com a quantidade e rapidez de propagação do mal. Mensagens falsas (Fake News) contra as vacinas, contra a Justiça, contra a imprensa, contra o Legislativo, contra os direitos das pessoas, contra a Democracia... Tudo isso, junto e misturado, em maciços ataques de desinformação.
A forma de combater tudo isso, analisa Magaly Prado, passa sim pelo mundo tecnológico da informação. É preciso investir ainda mais na confiança do trabalho jornalístico, amparado pela rapidez das agências de checagem de notícias, nacionais e estrangeiras.
É preciso incentivar a educação midiática, assegura a autora. As crianças precisam entender, de pequenas, o que seus pais ainda tem muita dificuldade de ver; que as redes sociais criam e espalham a desinformação, travestida como notícia, ou melhor, como nos explica Magaly, como mensagens falsas, as malfadadas Fake News.
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