A vida é (Isa)bela; por Flávio de Ostanila

"O combatente não queria mais matar: só desejava viver. Não que sua vida importasse! Seu bebê era a razão de toda a mudança"

Era uma vez, em um lugar mais perto do que imaginais, um homem muito intimorato chamado Flavius, da Casa de Ostanila. 

Foto: Arquivo pessoalFlávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa
Flávio José Pereira da Silva [Flávio de Ostanila] é policial penal, escritor, bacharel em Direito e professor de Língua Portuguesa

Não temia a dragão nem fugia de leões; bebia do veneno das serpentes mais peçonhentas e se deitava em formigueiros de Myrmecia pyriformis. Conta-se que ele adestrou Cérbero e derrotou Tifão. 

Os deuses – curiosos por saber se esse mortal era mesmo bravo ou tão somente insensível – presentearam-no com uma menininha de cabelos ondulados como um caracol, pele macia feito um pêssego, e cheiro de causar inveja a Nefertum. A ideia era observar as reações do gladiador ante a presença de enigmática criaturinha. 

Encantado com a criança, o polemistís – outrora habituado a lutar contra as mais aterrorizantes feras – trocou o campo de batalha por uma cabana e a lança por um escudo. 

O combatente não queria mais matar: só desejava viver. Não que sua vida importasse! Seu bebê era a razão de toda a mudança 

Os anos se passavam, e o indivíduo beligerante – assim como o conhecíamos – ia dando lugar a uma pessoa razoável. Os aedos já não cantavam seus feitos, e os inimigos não mais o temiam. A ambição de ser um estratego não tinha mais; o propósito de cavalgar Pégaso se esvaiu; também não persistiu o desejo por Eurídice. 

Os incansáveis monstros continuavam rondando sua moradia, enquanto ele ninava a pequena com lições de Epicuro. 

Até para Zeus era custoso crer que o humano que tantas vezes desceu ao Inferno pudesse ter as feridas curadas; e que sua alma, recorrentemente atormentada, encontrasse um farelo de paz. 

Claro que os males insistiram em espreitá-lo! afinal, a caixa aberta por Pandora nunca fora fechada. Entretanto uma magia o impulsionava a ser tolerante, esperançoso, perseverante, bondoso. 

Os deuses, acostumados com toda a glória, surpreenderam-se com tamanho poder que não partira do Olimpo. Essa energia regeneradora, que místicos diriam ser mágica, eu vos digo: é amor. 

E foi com essa força hercúlea que Isabela levou luz à escuridão que tragava o guerreiro e sobrepôs a tudo o que ele fora um único título – pai. 

Ah! viveram felizes para sempre.

Confira AQUI a última crônica do autor, publicada com exclusividade pelo JTNEWS

Fonte: JTNEWS

Comentários