Com alta nos juros, vale a pena financiar casa própria e carro agora?

Os percentuais mostram que, com o avanço da Selic (taxa básica de juros), houve um aumento também dos juros cobrados das famílias no financiamento de imóveis e de veículos

Na noite dessa quarta-feira (04/05), o Banco Central anunciou uma nova alta da Selic (a taxa básica de juros), de 11,75% para 12,75% ao ano, o maior patamar desde janeiro de 2017. Isso influencia os juros cobrados de famílias e empresas em empréstimos e financiamentos em geral. Quanto maior a Selic, maior o custo do crédito.

Foto: Getty ImagesExpectativa é de que juros do financiamento imobiliário diminuam em 2023
Expectativa é de que juros do financiamento imobiliário diminuam em 2023

Vale a pena financiar agora a compra da casa própria ou de um carro? Ou é melhor esperar a taxa básica cair? Como há incerteza sobre o futuro da economia brasileira, as opiniões são divergentes.

Escalada do custo

A alta da Selic influencia diretamente os juros cobrados nas operações de crédito. Isso ocorre porque os bancos captam recursos para, na outra ponta, emprestar para famílias e empresas. A Selic mais alta encarece o custo de captação dos bancos, que acabam fazendo repasses ao consumidor final.

Em março de 2021, o Banco Central iniciou o atual processo de elevação da Selic, para conter a inflação. Desde então, a taxa saltou de 2% para 12,75% ao ano (taxa anunciada na quarta-feira).

A seguir, é possível ver o movimento da Selic e dos juros médios cobrados de pessoas físicas em financiamentos imobiliários e na compra de veículos, até fevereiro deste ano. O dado de fevereiro é o mais recente divulgado pelo Banco Central.

Juros — Selic, financiamento imobiliário e compra de veículos (% ao ano)

- Janeiro de 2021: 2% (Selic); 7% (imóveis); 20,2% (veículos)

- Março de 2021: 2,75% (Selic); 6,9% (imóveis); 20,6% (veículos)

- Maio de 2021: 3,5% (Selic); 6,6% (imóveis); 21,3% (veículos)

- Junho de 2021: 4,25% (Selic); 6,7% (imóveis); 21,6% (veículos)

- Agosto de 2021: 5,25% (Selic); 7% (imóveis); 22,7% (veículos)

- Setembro de 2021: 6,25% (Selic); 7,2% (imóveis); 23,9% (veículos)

- Outubro de 2021: 7,75% (Selic); 7,5% (imóveis); 24,8% (veículos)

- Dezembro de 2021: 9,25% (Selic); 8,9% (imóveis); 26,8% (veículos)

- Fevereiro de 2022: 10,75% (Selic); 8,1% (imóveis); 26,9% (veículos)

Os percentuais mostram que, com o avanço da Selic, houve um aumento também dos juros cobrados das famílias no financiamento de imóveis e de veículos. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano, mas no mercado financeiro as projeções são de que a taxa básica poderá chegar a 13,25% em junho e assim permanecer até o fim de 2022.

Somente em janeiro de 2023, conforme as projeções do mercado, a Selic começaria a cair, até encerrar o próximo ano em 9,25% ao ano.

Vale a pena financiar agora?

Para o diretor-executivo de Estudos e Pesquisas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), Miguel Ribeiro de Oliveira, em função dos juros mais altos e dos valores envolvidos, este não é o momento de fazer um financiamento de longo prazo, como o imobiliário e o de veículos.

Uma coisa é você financiar a compra de uma geladeira por um período de seis meses ou um ano. Outra coisa é você financiar um imóvel por 30 anos. A taxa de juros vem subindo há algum tempo e, com isso, o risco de uma pessoa não conseguir pagar o financiamento é maior, por conta do custo. O melhor é esperar para financiar mais à frente.
Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Anefac

Oliveira lembra que as projeções do mercado financeiro apontam que a inflação, hoje na casa dos 12% no acumulado de 12 meses, tende a ceder nos próximos meses, o que permitirá ao Banco Central cortar a Selic no próximo ano.

Com uma Selic menor, a tendência é de que os juros dos financiamentos também diminuam. "Quando se contrata o financiamento, a pessoa paga o juro contratado de agora até o fim do prazo. E esta taxa de juros de agora já está mais alta e vai continuar subindo", alerta Oliveira. "O momento é de espera, porque em alguns meses a Selic deve começar a cair."

Momento de esperar

O professor Fernando Dal-Ri Murcia, diretor da Fipecafi Projetos em São Paulo, também acredita que o momento é de esperar.

O cenário indica que a Selic chegará a 13,25% ou, na pior das hipóteses, a perto de 14%, e começará a cair em 2023. Se for possível, a pessoa deve esperar seis meses ou um ano, porque vai pagar menos no financiamento.
Fernando Dal-Ri Murcia, diretor da Fipecafi Projetos

A recomendação, conforme Murcia, vale principalmente para os financiamentos imobiliários, que são mais longos e envolvem valores maiores. O professor diz que 1 ponto porcentual já gera uma diferença substancial no valor total do financiamento.

Especialista no setor imobiliário, o professor de Matemática Financeira José Dutra Vieira Sobrinho simulou o impacto da alta de juros em um financiamento de R$ 300 mil, pelo prazo de 30 anos. O sistema de pagamentos considerado foi o SAC (Sistema de Amortização Constante), um dos mais comuns nas operações com bancos.

Os resultados mostram que uma pessoa que tenha financiado um imóvel em janeiro de 2021, com taxa de 7% ao ano, pagará um total de R$ 608.655,00. Esta mesma operação, se fechada em janeiro deste ano, quando o juro médio estava em 9,4% ao ano, teria um custo total de R$ 706.125,00.

Na prática, em um ano, a diferença de 2,4 pontos porcentuais nos juros elevou o custo do crédito em cerca de R$ 100 mil.

Financiar agora, renegociar depois

Apesar do custo maior neste momento, Dutra recomenda que o interessado feche o financiamento imobiliário, desde que ele se enquadre no orçamento da família. Segundo o professor, isso é aconselhável porque, apesar da perspectiva de queda dos juros a partir de 2023, nada garante que os preços dos imóveis ficarão congelados até lá.

Em outras palavras, o custo do financiamento pode cair, mas o preço da casa ou do apartamento pode aumentar. "Nada garante que uma casa de R$ 500 mil hoje continuará neste preço daqui a um ano, quando os juros estarão mais baixos", alerta.

Neste sentido, Dutra recomenda financiar agora, ainda que os juros possam estar próximos de 10% ao ano. Ao mesmo tempo, o professor aconselha o mutuário a renegociar as condições com o banco quando os juros estiverem mais baixos. Ele lembra que o mutuário da casa própria pode fazer a portabilidade do financiamento —ou seja, pode passar o contrato de crédito de um banco que cobra juros mais altos para um que tenha um custo inferior.

"Os bancos dão um valor enorme para o financiamento habitacional, porque eles são de longo prazo. Muitas vezes, antes mesmo de fazer a portabilidade o cliente consegue renegociar a taxa de juros com o banco atual", afirma.

No caso do carro, é melhor esperar

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmaram que, no financiamento de veículos, pode ser mais vantajoso esperar pela queda de juros.

O risco, assim como no caso dos imóveis, é que o valor dos veículos também suba —como ocorreu nos últimos meses, na esteira das dificuldades de produção trazidas pela pandemia de covid-19. A tendência, no entanto, é que a produção também se normalize até o início de 2023.

"Se os juros diminuírem, e os preços dos veículos continuarem nos mesmos níveis, sem grandes acréscimos, é melhor esperar um pouco. O aconselhável é segurar por uns seis meses e depois fazer o negócio", opina Dutra.

Fonte: UOL Notícias

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