Moradores de rua sofrem com a pandemia do novo coronavírus

"Mandaram todo mundo ir pra casa. E nós, que não temos casa?"

Em um trecho da rua Norma Pieruccini Giannotii, na Barra Funda, sujeira e moradores de rua dividem a calçada com pequenos comerciantes que vendem água e doses e garrafinhas de cachaça.

Foto: Alex TajraAbrigo Boracea, na Barra Funda, onde dormem pessoas em situação de rua
Abrigo Boracea, na Barra Funda, onde dormem pessoas em situação de rua

Pouco antes da fila que se acumula para entrar no centro de convivência do Abrigo Boracea, os irmãos Michael e César* mostram a outros moradores em situação de rua como estão se cumprimentando em tempos de coronavírus. Sorrindo, tocam os calcanhares.

"Mandaram todo mundo ir pra casa. E nós, que não temos casa? Estamos dormindo aqui um do lado do outro, a 40 centímetros uns dos outros. Pediram isolamento, e nós vamos nos isolar aonde?" Os dois vivem nas ruas de São Paulo há cerca de um ano.

Em 2014, eles deixaram Governador Valadares, em Minas Gerais, para tentar a vida na capital paulista. Conseguiram um emprego na zona cerealista no Brás, mas perderam os postos no ano passado. Desde então, os dois passaram a dormir no Boracea, sobrevivendo com bicos e trabalhos esporádicos, como ajudar no carregamento de um caminhão ou montar palcos de eventos. De chinelos, com uma calça jeans dobrada na altura do tornozelo e camisa vermelha.

O Abrigo Boracea é um dos maiores de São Paulo. Lá dormem, todos os dias, cerca de 1.200 pessoas que não têm onde morar. Elas são acomodadas, na maioria dos casos, em beliches. Convalescentes (pessoas que estão passando por alguma recuperação em termos de saúde) e pessoas com deficiência têm alas específicas, com camas individuais.

As vagas, segundo relatos, são escassas, e o albergue está sempre lotado. O Censo da População de Rua estima que pouco mais de 24 mil pessoas vivam nas ruas de São Paulo. O número é considerado subnotificado pelas organizações que tratam do tema. Mesmo levando em consideração este valor, que não reflete a realidade, a prefeitura dispõe de 17 mil vagas, .

Dentro do centro de convivência e do albergue, alguns funcionários utilizam máscara e o álcool gel é disponibilizado. Prefeitura e governo do estado, entretanto, não têm planejamento concreto para atender as pessoas em situação de rua. A reportagem apurou que o albergue na Barra Funda, por exemplo, vem questionando a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, mas não há resposta.

Procurado, o governo do Estado afirmou que "os programas que tratam dos moradores de rua são de responsabilidade da prefeitura". Já a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) diz que "os serviços conveniados à pasta estão intensificando os cuidados com a higiene, como lavar bem as mãos com água e sabão, cobrir a boca e o nariz ao tossir e espirrar, evitar tocar os olhos, e orientações de não compartilharem objetos de uso pessoal".

Fonte: UOL Notícias

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