Delegados da PF rebatem Lira e dizem não perseguir ninguém em investigações

Aliados de Lira foram alvo da PF em junho deste ano, em apuração sobre suspeitas envolvendo kits de robótica. O nome do presidente da Câmara apareceu no inquérito com a deflagração da operação.

Após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizer em entrevista à Folha que o governo precisa ter "cuidado" com excessos que têm aflorado em investigações da PF, a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) afirmou que a atuação da corporação não privilegia nem persegue ninguém.

Foto: Pedro Ladeira | FolhapressArthur Lira durante entrevista à Folha na residência oficial da Câmara.
Arthur Lira durante entrevista à Folha na residência oficial da Câmara.

"A Polícia Federal é órgão de Estado e conquistou ao longo de sua história o prestígio e a confiança da sociedade na seriedade de seus policiais. As investigações conduzidas pela PF não privilegiam nem perseguem ninguém, são sempre pautadas pela legalidade e pela imparcialidade", afirmou Luciano Leiro, presidente da ADPF.

Na entrevista publicada na segunda-feira (18), Lira declarou que a "Polícia Federal não trabalha nem como promotor de Justiça nem como juiz." "Ela tem que ir até a investigação. Acabou a investigação, acabou o papel. Ela não pode ir além disso. Tem policiais indo além disso", concluiu o presidente da Câmara.

A avaliação de integrantes da PF é que não há o que comentar sobre as críticas do presidente da Câmara. Eles dizem que as investigações são baseadas em fatos e que a melhor resposta que a Polícia Federal pode dar é seguir com seu trabalho nas investigações em curso.

Foto: Pedro Ladeira | FolhaPressPoliciais deixam hotel em Brasília após cumprirem mandado de busca e apreensão contra suspeitos de desvio de verbas para compra de kits de robótica.
Policiais deixam hotel em Brasília após cumprirem mandado de busca e apreensão contra suspeitos de desvio de verbas para compra de kits de robótica.

Aliados de Lira foram alvo da PF em junho deste ano, em apuração sobre suspeitas envolvendo kits de robótica. O nome do presidente da Câmara apareceu no inquérito com a deflagração da operação, ocasião em que os policiais encontraram uma lista com pagamentos atribuídos a ele. A PF enviou o caso ao STF e, semanas depois, o ministro Gilmar Mendes mandou paralisar a investigação.

"Isso é uma alegação. Mais um abuso, um excesso. Não tem nada que foi provado com relação a isso, inclusive toda essa operação foi anulada", afirmou Lira na entrevista.

Ele também criticou a Operação Perfídia, deflagrada na semana passada, que investiga suposta fraude em licitação do Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, então comandado pelo general Walter Braga Netto (PL). O militar foi ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice na chapa derrotada em 2022.

Integrantes da PF também viram na declaração de Lira uma tentativa de intimidar a corporação a frear novas investigações.

Já Leiro afirma que, "se há casos em que, após a investigação, a Justiça decide pela inocência dos investigados, isso só demonstra o êxito do sistema de persecução penal, e não abuso ou excesso dos investigadores, é assim na democracia e no próprio sistema de justiça criminal do Brasil."

Para o presidente da ADPF, "não podemos nunca abrir mão da autonomia funcional e investigativa dos delegados federais, que é prerrogativa fundamental para o bom andamento e o êxito de uma investigação policial, que conta sempre com a participação de representantes do Ministério Público e do Poder Judiciário."

Na entrevista, Lira foi questionado sobre a atuação do ministro Flávio Dino (Justiça), mas o poupou de críticas. O presidente da Câmara afirmou que tem uma boa relação com o titular da pasta. Mas mirou na PF.

"O que não deve ter é uma polícia política, para nada. Isso é o pior dos mundos. Nem um polícia com autonomia para fazer o que quer. Nós não temos isso. Polícia é órgão de estado para cumprir determinações legais."

Fonte: JTNEWS com informações da Folha de S.Paulo

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