Por que a OMS considera a taxa mínima de 50% de eficácia para aprovar uma vacina contra a COVID-19?

Apesar de o Instituto Butantan ter anunciado que a Coronavac teve 50,38% de eficácia, isso não deve impedir a aprovação do imunizante pela Anvisa

Apesar do anúncio realizado pelo Instituto Butantan e o Governo do Estado de São Paulo de que a Coronavac teve 50,38% de eficácia, número inferior à taxa divulgada na semana passada, o índice não deve impedir a aprovação do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso porque tanto a agência brasileira quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) exigem eficácia mínima de 50% contra o Coronavírus.

Foto: AFPvacina

Este patamar foi colocado como parâmetro ainda em agosto do ano passado pela cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan. Além disso, faz parte do rol de exigências da entidade a comprovação de que a vacina é segura e que eventuais efeitos colaterais mais graves sejam raros. 

A razão pela qual se considera uma taxa de 50% de imunização nos testes para a liberação do uso emergencial das vacinas se deve, principalmente, ao custo-benefício para combater efetivamente o vírus, explica o infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri.

“Ter um programa de imunização, instituir uma vacina, colocar em um programa. Tudo isso tem custo e uma dinâmica. Há toda uma ação de vacinação e vigilância de efeitos adversos. Não se faz uma intervenção deste tamanho para ter um benefício de só 15%, por exemplo. Se pensarmos no esforço da intervenção como um todo, por isso que chegou-se ao 50% como o mínimo de eficácia orientado pela OMS. Foi um consenso de especialistas”, afirma ele.

“Sempre que se olha a eficácia de uma intervenção qualquer em saúde, ela deve ser vista dentro do contexto do tamanho do problema. E um problema deste tamanho, como a COVID-19, com tantas mortes, hospitalizações, problemas sociais e econômicos, ter intervenções que diminuam 30%, 40% ou 50% traz impactos enormes. A OMS coloca 50%, mas poderia até ter menos.”, defende Kfouri.

O virologista da Universidade Federal de Minas (UFMG) Flávio Guimarães Fonseca acredita que a taxa de 50% de eficácia está relacionada à possibilidade de se aproximar de uma imunização coletiva. Segundo ele, a literatura não detalha cálculos para chegar a esse número.

"A taxa de 50% seria um número que ainda permitiria alcançar a imunidade coletiva, que é um dos objetivos principais de uma campanha de vacinação. Vacinas com taxas abaixo de 50% certamente precisam de uma cobertura vacinal muito alta. Talvez, por isso, abaixo desse número fosse inviável alcançar essa imunização coletiva”, diz.

Kfouri também diz os números apresentados pela Coronavac para imunização geral da população são suficientemente interessantes para a introdução de uma vacina em um programa público. 

“Além dos 50% sobre qualquer forma de COVID-19, quando você centraliza nas formas leves e moderadas, este número sobe para 78%. São números suficientemente interessantes e o impacto é medido não só pela eficácia da vacina, mas com cobertura vacinal,  número de doses, a questão da estabilidade térmica. O impacto da introdução de uma vacina é resultado de vários fatores, não só da eficácia dentro de um estudo”, afirma. 

Fonte: Estadão Conteúdo

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